Fora do Brasil desde janeiro, quando renunciou ao seu terceiro mandado como deputado federal, Jean Willys disse nesta terça-feira (19) que desde a eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil começou a receber inúmeras ameaças.
— (Bolsonaro) me tornou uma espécie de inimigo, mas não era adversário político, era inimigo dele — afirmou o ex-deputado. — Eu recebia ameaças de morte por telefone, pelas redes sociais, por e-mail. Começaram, inclusive, a me ameaçar nas ruas — acrescenta o ativista.
Em janeiro, o político de 45 anos, primeiro deputado abertamente homossexual do Congresso do Brasil, renunciou ao seu terceiro mandato diante do número crescente de ameaças que recebia desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
Bolsonaro e Wyllys tiveram uma briga em abril de 2016, durante os debates sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff, quando o deputado do Rio de Janeiro cuspiu na cara do então deputado Bolsonaro, depois que ele elogiou o torturador Brilhante Ustra.
Democracia "está em risco"
De acordo com Jean Wyllys o assassinato da vereadora Marielle Franco, há um ano, também pesou na sua decisão de deixar o país.
— Depois do assassinato de Marielle Franco, o cálculo de risco apontou que eu corria risco de vida — disse.
— O então presidente da Câmara destacou uma escolta para me acompanhar de casa pro trabalho e do trabalho para casa. A partir daí, passei a viver em uma espécie de cárcere privado — relata. — Foi nesse momento que me dei conta de que eu não poderia assumir meu novo mandato.
Desde que deixou o Brasil, em janeiro, o ex-deputado tem vivido entre Barcelona, na Espanha, e Berlim, na Alemanha. Há alguns dias, ele ainda se negava a revelar onde se instalaria, mas agora conta sem medo que ficará provisoriamente na capital alemã.
— Berlim me escolheu — responde Wyllys, que conta que, após se exilar, foi contratado pela fundação alemã Rosa Luxemburgo e pela Open Society Foundation, que lhe propuseram fazer um doutorado na cidade.
Paralelamente à vida acadêmica, o ex-parlamentar promete continuar, do Exterior, sua militância contra o governo de Bolsonaro:
— É possível fazer política fora do Parlamento e é possível viver livremente como estou vivendo agora e sem risco de vida.
Jean Wyllys não sabe até quando ficará na Europa.
— Eu não sei quanto tempo vou ficar fora porque não sei quanto tempo vai durar a noite no Brasil — afirmou.