Da bela Cancun, no México, o prefeito de Caxias do Sul, Alceu Barbosa Velho (PDT), monitora uma crise no seu gabinete. O pedetista está em férias desde quarta-feira, acompanhado da primeira-dama, Alexandra Baldisserotto.
Mal chegou na praia caribenha, Alceu soube que o funcionalismo se reunirá nesta quinta-feira à noite, em uma assembleia convocada pelo Sindicato dos Servidores, para discutir pontos de insatisfação. Enquanto servidores com salários maiores, como médicos, dentistas e fiscais, cobram isonomia salarial (equiparação entre profissionais que exercem a mesma função), outros menos afortunados estariam descontentes com o corte de horas-extras, casos de gestão arbitrária e com o aumento da fiscalização de rotinas - um exemplo é a instalação de GPS para controlar a frota.
Alceu já sabia dessa possibilidade quando entrou em férias, terça-feira. Tanto é que distribuiu, por meio da Comunicação chefiada por sua mulher, um informe aos jornalistas sobre o envio de projetos à Câmara pagando gratificações e reforçando o controle do assédio moral, entre outros benefícios. Foi uma tentativa de esfriar a assembleia dos servidores. Até quarta-feira, porém, os projetos não tinham atravessado o estacionamento que separa os prédios do Executivo e Legislativo.
Não bastasse a insatisfação dos servidores, um parecer jurídico teria alertado que o vice-prefeito Antonio Feldmann (PMDB) se equivocou quando decidiu não assumir a vaga de prefeito nas férias de Alceu, já que pretende concorrer a deputado federal. Por isso, a bancada do PT pede ao Ministério Público Eleitoral que o torne inelegível.
O suposto parecer teria indicado que Feldmann precisaria estar viajando para justificar a entrega do cargo, como ocorreu, ao presidente da Câmara, Gustavo Toigo (PDT). Coincidência ou não, um novo comunicado distribuído às 15h14min de quarta-feira informou que Feldmann viaja nesta quinta-feira para conhecer vinhedos em Mendoza, Argentina, retornando somente na segunda-feira.
A suspeita de crise no gabinete do prefeito se confirmou por meio de um telefonema do titular Manoel Marrachinho, ao jornalista Márcio Serafini, do Pioneiro e da Rádio Gaúcha Serra, admitindo que pode deixar o cargo que ocupa há 15 meses. Amigo pessoal de Alceu, o engenheiro Marrachinho justifica que tem um perfil mais técnico, e que o gabinete tem demandas cada vez mais políticas.
Não bastassem o desconforto dos servidores, o suposto tropeço na entrega do cargo para Toigo, a viagem de última hora de Feldmann e a jogada de toalha de Marrachinho, Alceu estaria enfrentando a resistência do só agora preferido para assumir o principal cargo do gabinete, Edson Néspolo (PDT).
- Não estou sabendo de nada, não fui convidado e estou feliz na Festa da Uva - diz Néspolo.
Desde domingo, Alceu tenta convencer o colega de partido e presidente da bem-sucedida Festa da Uva a assumir a chefia de gabinete. Exímio negociador, Néspolo foi o principal articulador político nos oito anos do governo José Ivo Sartori (PMDB), e só não irá coordenar a provável campanha do caxiense ao governo do Estado porque o PDT deve ter candidato próprio (Sartori deve coligar com o PSB).
Néspolo tinha como parceiro no governo Sartori o secretário de Gestão e Finanças, Carlos Búrigo, que terça-feira deixou o governo Alceu supostamente para concorrer a deputado estadual pelo PMDB, diante da falta de um nome forte do partido nos Campos de Cima da Serra, sua região. A tendência, porém, é o ex-prefeito de São José dos Ausentes coordenar a campanha de Sartori.
Alceu volta do México no início da semana que vem, quando espera que seus aliados já tenham convencido Néspolo, preterido do gabinete durante a transição Sartori-Alceu, e antes ainda convencido a desistir de disputar a prefeitura no lugar de Alceu, a assumir o valoroso posto.
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Do México, prefeito de Caxias do Sul monitora crise no gabinete
Administrador saiu num momento de insatisfação dos servidores, com vice não querendo assumir e Marrachinho falando em deixar cargo
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