Em um mês, três figuras da política de Caxias do Sul, os vereadores Daniel Guerra e Neri Andrade Pereira Júnior e o ex-secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Caleb de Oliveira, estiveram envolvidos em situações desgastantes e de mal-estar por motivos semelhantes, mesmo em legendas distintas. De posições firmes e sem se submeter a determinações partidárias, o resultado acabou sendo uma expulsão, uma desfiliação e críticas do comando do próprio partido.
Guerra foi secretário municipal do Turismo no primeiro governo de José Ivo Sartori (PMDB), mas acabou adotando postura antagônica à linha do PSDB, na Câmara de Vereadores, partido ao qual pertencia. Foi expulso da sigla em 9 de setembro. Há pouco mais de uma semana, ele rumou para o PRB.
Caleb, um tradicional militante de esquerda, presidiu o PSB gaúcho durante nove anos, representando-o em disputas ao governo do Estado e à prefeitura. Desobedeceu a determinação partidária de sair do governo Tarso Genro (PT), anunciada em 24 de setembro, e acabou sendo alvo de representação no Conselho de Ética, formulada pelo PSB caxiense. Decidiu sair do partido na última quarta-feira.
O carteiro Neri, novato na política, mal havia estreado no Legislativo como vereador pelo DEM quando o partido em âmbito municipal sofreu intervenção nacional. Ele enfrenta divergências internas devido às nomeações dos cargos da bancada e por falta de entrosamento de seu mandato com o partido. Ainda não houve desfecho, e nova reunião está prevista para segunda-feira. O vereador tem afirmado que não pretende entregar os cargos.
O doutor em Ciência Política João Ignacio Pires Lucas explica que todos esses movimentos são fruto do período pré-eleitoral, tratando-se de uma fase natural de rearranjos internos, com as filiações um ano antes da disputa para quem vai concorrer (o prazo encerrou-se no dia 5). Mesmo que às vezes não tenha relação direta ou pareça não ter, como é o caso dos dois vereadores, são fenômenos que estão escondidos e não viriam à tona se não tivesse o troca-troca partidário antes das eleições.
- É natural que os partidos comecem a se preparar, ainda mais para um ano como 2014, com eleição aos principais postos. Tudo isso é um subefeito do presidencialismo de coalizão, com muitas siglas juntas e confusão nas coligações - define Pires Lucas.
Ao analisar os dois casos que tiveram desdobramentos práticos com seus filiados, o cientista político define que a saída do PSB do governo Tarso, mesmo tendo o vice-governador, acaba produzindo efeitos locais, pois tem a ver com as novas coligações.
- O PSB mudou seu posicionamento nos últimos anos. Tem donos do partido, como o Beto (deputado federal Beto Albuquerque), do tipo "ame-o ou deixe-o" - explica Pires Lucas, referindo-se à situação envolvendo Caleb.
No caso de Guerra, diz ele, a questão é mais pontual, mais localizada, mas não se deve apenas à postura adotada pelo vereador em choque com o posicionamento tucano em defesa do governo Alceu Barbosa Velho (PDT).
- Ele sempre foi mais independente e de pouco diálogo com o partido. Era uma situação desgastante. Gerou atritos com outros partidos, que começaram a pesar.
Partidos
Período pré-eleitoral é principal responsável pelas divergências envolvendo políticos de Caxias
Posições de Daniel Guerra, Caleb de Oliveira e Neri Andrade Pereira Júnior levaram a reações fortes do PSDB, PSB e DEM
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