
A Polícia Civil de Caxias do Sul pediu a responsabilização do trio de adolescentes que atacou uma professora na Escola Municipal João de Zorzi por três atos infracionais análogos a crimes: tentativa de homicídio, associação criminosa e incitação à prática criminosa.
O ataque à professora de inglês aconteceu em 1º de abril. Os dois adolescentes, ambos de 15 anos, atacaram a vítima enquanto ela iniciava a aula de inglês. A professora foi golpeada com facadas pelas costas. A adolescente de 13 anos teria participado do planejamento do ato, conforme a investigação. Depois disso, o trio fugiu da escola e foi apreendido pela Brigada Militar e Guarda Municipal.
Os três adolescentes cumprem internação provisória na Fundação de Atendimento Sócio-Educativo do Rio Grande do Sul (Fase) desde 3 de abril. Os dois adolescentes foram encaminhados para a unidade de Novo Hamburgo. Já a adolescente está na unidade de Porto Alegre.
Contudo, o período de permanência na Fase pode se estender caso o juiz que julgar o caso entenda necessário. Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a internação na fundação pode ocorrer por no máximo três anos.
Grupo de mensagens e facas levadas de casa: o que aponta a investigação
A investigação da Polícia Civil, concluída em 10 de abril, confirma que o ataque foi premeditado. Conforme a delegada titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Aline Martinelli, tudo começou seis dias antes do ataque a partir de um episódio de indisciplina envolvendo o trio:
- Quinta-feira, dia 27 de março: os estudantes chegam na escola com preservativos que foram enchidos com água e provocam uma algazarra. Os adolescentes são repreendidos pela direção da escola pela conduta.
- Sexta-feira, dia 28 de março: os dois adolescentes de 15 anos criam um grupo no Instagram denominado "Matadores". Posteriormente, a adolescente de 13 anos foi incluída.
- Sábado e domingo, dias 29 e 30 de março: o trio passa o fim de semana trocando mensagens e organizando o ataque. Segundo a investigação, os adolescentes combinaram de levar facas de casa para atacar integrantes da direção e professores. A polícia não detalha quem seriam os alvos.
- Segunda-feira, dia 31 de março: os pais dos adolescentes vão até a escola a pedido da direção para conversar sobre a conduta dos filhos. O ataque não acontece porque um dos adolescentes não foi à escola.
- Terça-feira, dia 1º de abril: o ataque acontece.
Como foi a organização e dinâmica do ataque à professora
Conforme a delegada Aline Martinelli, as mensagens avaliadas no grupo "Matadores" indicaram que os estudantes levaram cinco facas para a Escola João de Zorzi. Todos os itens foram retirados das casas dos adolescentes sem que os pais percebessem.
Contudo, antes de entrar na escola, os jovens teriam se reunido em uma área de mata para afiar as facas. Após, ingressam na escola com os objetos distribuídos nas mochilas.
— A gente não sabe quem levou qual faca, até porque nos depoimentos eles não nos disseram. Pelas mensagens vistas no grupo, seriam cinco facas grandes, com potencial de causar morte — explica.
Após entrar na escola, o trio se dirigiu para a sala de aula do sétimo ano, onde estudavam. Ao entrar, um dos adolescentes retirou a câmera de segurança instalada na sala e a escondeu na mochila.

— Antes da aula começar, eles mostraram essas facas para colegas e contaram sobre o plano de atacar um dos docentes. Nesse momento eles não tinham um alvo específico. Inclusive, outros estudantes foram convidados para se juntar à ação, o que não aconteceu — detalha.
Assim que a aula começou, a professora começou a distribuir livros. Quando a docente ficou de costas para um dos jovens, o ataque começou. Apenas os dois adolescentes efetuaram o ataque. A jovem não participou da agressão.
Nesse momento, os demais estudantes saíram da sala, em pânico. O trio aproveitou o momento e fugiu da escola. Os três se esconderam em uma área de mata e foram localizados pela Brigada Militar e Polícia Civil horas mais tarde.
Na mochila que um dos jovens levava, estavam duas facas utilizadas no crime. Outras duas facas foram encontradas na sala de aula. A quinta faca não foi localizada.
Desorientação e surpresa: como foi o ataque à professora
Conforme o advogado que representa a professora, Leonel Ferreira, ela não viu os estudantes durante o ataque. Isso porque tudo aconteceu pelas costas dela.
— Ela estava distribuindo os livros, para que as atividades começassem. Assim que chegou na classe de um dos adolescentes envolvidos no ataque, ela estranhou que ele foi educado quando pediu que ele tirasse a mochila da mesa. Quando ela virou de costas para ele, começou o ataque — explica.
O primeiro golpe que a professora sofreu foi na cabeça. Contudo, ela imaginou que o aluno tivesse batido nela com o livro. Ao sentir o sangue, ela percebeu a gravidade dos ferimentos. Segundo o advogado, foram mais de 10 lesões na cabeça, na mão, nos braços e na perna.
Na sequência, a equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) vizinha à escola, no Fátima Baixo, chegou para prestar os primeiros-socorros. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e levou a docente para atendimento hospitalar.
As motivações e a conclusão da investigação

Conforme a delegada Aline Martinelli, o ataque foi cometido por vingança contra a direção e os professores, "devido à repressão aos comportamentos indisciplinares e falta de empatia com outras pessoas."
— Em depoimento, eles foram muito controversos. Alegaram vingança, disseram já ter sido humilhados na escola, até comentaram não ter uma motivação específica. Nas mensagens do grupo, observamos uma falta de empatia com as pessoas, no sentido de não gostar de alguém e ter o desejo de investir contra aquela pessoa — detalha.
O procedimento que investigou os alunos pede que eles sejam responsabilizados por três atos infracionais análogos aos crimes de tentativa de homicídio por motivo torpe, associação criminosa e incitação à prática de crimes. O ato infracional é o equivalente ao crime, contudo cometido por menores de 18 anos.
Tanto a delegada Aline, quanto o delegado regional, Augusto Cavalheiro Neto, acreditam que, devido à gravidade do caso, o trio de adolescentes permaneça na Fase pelo período máximo previsto do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que são três anos.
Apesar do procedimento ter sido encerrado, a polícia ainda analisa os celulares dos adolescentes apreendidos. Segundo os delegados, a polícia ainda busca entender se o trio recebeu suporte ou foi coagido a agir por terceiros.