O pré-candidato a presidente da República e deputado federal, Jair Bolsonaro (PSL-RJ), cumpriu agenda eleitoral em Caxias do Sul na quinta-feira. O roteiro levou Bolsonaro ao 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) e à Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC). Bolsonaro reservou dois momentos para discursar para seus simpatizantes: na frente do Aeroporto Hugo Cantergiani à tarde e no salão paroquial da igreja Nossa Senhora da Saúde à noite.
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Após tentar afastar o caráter de roteiro eleitoral, o pré-candidato à Presidência concedeu entrevista ao Pioneiro na manhã desta sexta-feira e comentou sobre seus planos para a educação, a manutenção do Sistema Único de Saúde (SUS) e qual o modelo da política econômica que pretende adotar, caso seja eleito presidente da República. Confira:
Pioneiro: O que pode lhe tirar da disputa presidencial?
Jair Bolsonaro: Eu tinha um processo do Supremo (Tribunal Federal) e o meu depoimento foi adiado para depois de agosto, então não corro risco nenhum de ir ao Supremo. O meu partido está perfeitamente alinhado comigo e deve me escolher nas convenções. Se essa for a vontade de Deus, vamos prosseguir na missão.
Quem será seu principal adversário na eleição?
Não penso em principal adversário. Quando entro em campo, é para ganhar o jogo. Não interessa se vem A, B ou C, e vamos em frente. O Lula, agora, pelo que tudo indica está saindo de combate, não estou torcendo (contra), ele está apenas colhendo o que plantou. Desmando, corrupção, bandalheira e, no meu entender, com a lei da Ficha Limpa, está fora de combate.
A condução da economia em um eventual governo do senhor vai manter o tripé macroeconômico adotado nas últimas décadas ou vai se assemelhar ao modelo adotado pelos governos militares?
Há uma diferença grande. Naquela época, tinha que partir para estatizações, quem construiria a Itaipu Binacional se não fosse o capital governamental? Tenho conversado com o Paulo Guedes, que é meu grande conselheiro da área econômica e que, tudo indica, estará a frente do Ministério da Fazenda e Planejamento. A questão da inflação, juros e responsabilidade fiscal, tem que ser mantida.
Qual será o perfil do seu ministro da Fazenda?
Posso confirmar no que depender de mim, mas depende dele (Paulo Guedes) também. É um economista reconhecido dentro e fora do Brasil. Nunca esteve em governo nenhum, inclusive foi convidado por todos os governos e não aceitou porque queria impor a sua política. Estamos com problemas terríveis no Brasil, final do ano estamos aproximando a R$ 4 trilhões de dívida interna, metade do orçamento vai para (o pagamento) de juros e rolagens de dívidas, 93% do orçamento está comprometido com despesas obrigatórias, a mão de obra no país é caríssima, o salário é pouco para quem receber e muito para quem paga. Para agregar valor no que se tem aqui, é difícil exatamente pelo preço altíssimo da mão de obra. É um trabalho que vai estar nas mãos dele (Paulo Guedes), é um paciente que está no hospital e não será eu, Jair Bolsonaro, que vai resolver, vai ser um médico. Esse médico na economia chama-se Paulo Guedes.
Deputado, qual o valor do salário mínimo nacional?
É em torno de novecentos e poucos reais. Ninguém é obrigado a pagar mais do que isso, mas tem que ter o mínimo de referência. Antigamente, era o Parlamento que aumentava o salário mínimo, hoje em dia é o governo por decreto. No passado, os prefeitos iam na Câmara pedir pelo amor de Deus para não aumentar o salário mínimo além do que requeria a inflação por um real a mais, pois pesava no orçamento municipal.
E qual é o valor ideal do salário mínimo?
Aí quem vai dizer... Olha só... Tem gente que fala que é R$ 2 mil, R$ 3 mil, R$ 4 mil, a economia quebra. Não adianta fazer demagogia. Eu vejo o pessoal de esquerda, PCO (Partido da Causa Operária) e outros partidos de esquerda dizendo que tem que ser R$ 4 mil, simplesmente acaba o Brasil. Agora se o Brasil começar a voltar a ter uma política de mercado, desburocratizar muita coisa, e faz a economia rodar, cada vez mais vai ter autônomos, gente gerindo seu próprio negócio, e diminui o número de empregados.
Os servidores públicos e os militares terão aumento de salário em seu governo?
A minha intenção, sim. Entre os servidores, quem mais sofreu foram os militares e o pessoal do Executivo. Começou em 1994 com o Plano Real, quando 97% da inflação de janeiro e fevereiro daquele ano foi expurgado do contracheque dos militares e servidores civis.
Se eleito for, qual sua proposta para auxiliar os Estados que estão enfrentando crise financeira?
Vai ter gente falando que vai atender (aos Estados), que vai ter solução. Nós só temos 7% disponíveis no orçamento, é muito pouco. Você tem que ajudar alguns Estados, sim. Como? Pergunte para o Paulo Guedes. Qualquer candidato pode prometer o que bem entender, mas tem que ter responsabilidade porque não tem recurso para tanto. Ninguém pensa em aumentar imposto, tem que buscar o contrário, diminuir alguns impostos.
Seu governo vai investir na educação pública?
Sou do tempo que a escola pública era referência. Hoje, a escola pública tem um currículo sofrível. A preocupação não é química, física, matemática, geografia, é outra: a doutrinação em grande parte das escolas do Brasil. A questão da ideologia de gênero, muito vezes o professor não tem como exercer a sua autoridade na sala de aula. Tem que começar por aí para colher isso em 10, 20 anos.
O senhor defende a manutenção do SUS?
É outro problema. A questão da saúde é crítica no Brasil. Não vem um pré-candidato dizer que vai aumentar recursos porque não tem. Não tem folga no orçamento. Tem que ter um bom gestor para ver onde está sendo o maior gasto e onde pode ser diminuído esse gasto com medidas preventivas.
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Se eleito, qual será seu principal programa político?
É governar pelo exemplo.
Deputado, exaltar a ditadura militar e defender a democracia não é uma contradição?
O que vocês da imprensa definem o que é ditadura? Eu recomendo que o pessoal procure seu pai e pergunte como viviam na época. Nós tínhamos liberdade total no Brasil, hoje falam em democracia, mas ninguém quer sair à noite de casa. O povo foi às ruas para pedir saúde, educação e segurança? Não. O povo foi às ruas para pedir direito de votar, e estão votando hoje em dia. O que eu defendo são os valores daquela época, onde se respeitava pai e mãe, os professores, o policial era respeitado.
Na quinta-feira, o senhor garantiu que respeitará a família brasileira, mas já se envolveu em polêmicas com homossexuais e negros. Não tem medo de perder votos dessas famílias?
Me entrevistaram perguntando sobre a questão salarial. Temos pesquisa que diz que a mulher ganha menos do que o homem. Era uma resposta da pesquisa, não minha. Um jornal falou que eu estava defendendo que mulher ganhasse menos. Eu sou contra as cotas. No meu entender, a questão das cotas divide a sociedade. Tem muito negro que é aprovado em concurso na frente de branco. Nós somos iguais.
Se arrepende de alguma declaração polêmica?
Não. Todas foram visando atingir um bem comum. Quando uns canalhas querem colocar no currículo escolar aula de sexo, tem que se revoltar com isso. A grande mídia e os ativistas dizem: ele é contra gay. Estou me lixando para o gay, ele que vá ser feliz e levar a vida dele. Não me interessa saber o que ele faz com seu corpo. A maioria dos gays vota em mim e é contra esse tipo de educação sexual nas escolas.
Algumas de suas manifestações provocam incitação à violência. Esse comportamento não contribui para aumentar o clima hostil na população?
Me cita um exemplo?
Na tarde de quinta, o senhor chutou um boneco pixuleco.
Foi um gesto simbólico. Aquele cara (se referindo a Lula) deveria estar na cadeia há muito tempo. Quem não tem vontade de chutar a bunda de um vagabundo?
O senhor tem defendido o voto impresso, mas foi eleito com votos na urna eletrônica. Por que o senhor tem tanta desconfiança do TSE?
No início do voto eletrônico, fui simpático. Depois, fui vendo que algo errado podia acontecer. Nenhum lado tem como comprovar que há fraude. O PT aparelhou quase tudo do Estado brasileiro e pode fazer com que muitos votos sejam fraudados para um partido, o chamado voto de legenda.