
Sesquicentenário. A palavra pode até ser difícil, mas é bom se acostumar com ela neste ano em que o Rio Grande do Sul comemora os 150 anos da chegada dos primeiros imigrantes italianos ao Estado. Na serra gaúcha, região que recebeu a maior parte desta população e onde vivem muitos dos seus descendentes, uma série de atividades está programada para celebrar este aniversário que remete ao ano de 1875, quando as primeiras famílias migrantes chegaram à região de Nova Milano, atual distrito de Farroupilha.
A Comissão Oficial do Sesquicentenário da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul foi criada em abril de 2024 pelo governador Eduardo Leite. A Universidade de Caxias do Sul, sob a coordenação do historiador Anthony Beux Tessari, integra esta comissão ao mesmo tempo em que preside outra, criada ainda em 2023 em nível municipal, para coordenar os eventos comemorativos em Caxias. Tessari ressalta que a efeméride motiva não apenas a celebração, com o devido orgulho que a comunidade tem da imigração italiana, mas também proporciona a oportunidade para que se possa analisá-la mais a fundo.
— Ao longo destes 150 anos houve momentos de comemoração, como em 1925, quando se festejou o cinquentenário num contexto muito ufanista e triunfalista, de exaltação à pátria que à época era comandada pelo ditador Benito Mussolini. Com o passar dos anos, o afastamento temporal permitiu que se ampliasse o conhecimento histórico da imigração. Principalmente a partir do centenário, em 1975, se fortaleceu muito a criação de espaços de preservação da memória.
O pesquisador acrescenta que há, hoje, um movimento para entender os elementos culturais permanentes na região.
— Na música, na própria culinária, na língua, com o movimento de preservação da língua talian, na fé, que a gente também encontra elementos significativos como a Romaria de Caravaggio. Ao mesmo tempo, também se compreende cada vez mais as relações interétnicas, contemplando outras etnias que também formam esse mosaico cultural na região e no Estado — aponta o historiador.
Embora o aniversário da imigração italiana seja comemorado no dia 20 de maio, até dezembro, oficialmente, dezenas de eventos na Serra e também nas demais regiões do Estado onde o Consulado Italiano no Rio Grande do Sul conta com consulados honorários irão marcar o sesquicentenário, que recebeu do governo do Estado o slogan "Nossa História é Feita de Futuros".
Um site especial foi criado para reunir a programação. Outro site reúne os eventos que irão ocorrer em Caxias do Sul, organizados pela comissão local.
Cônsul Honorário da Itália em Caxias do Sul, o empresário Gelson Castellan considera que o sesquicentenário é um ano especial em que os descendentes de italiano reforçam sua honra de pertencer à linhagem sucessória de verdadeiros heróis, que deixaram seu país sem nada além de muitas incertezas, mas com a firmeza nos valores que os ajudaram a prosperar:
— Falar de orgulho é muito delicado, mas acho que podemos, sim, falar de heroísmo. Eles (os imigrantes) foram heróis, por tudo que deixaram para trás, e ajudaram a desenvolver essa região, com o sentimento voltado sempre para família, religiosidade e trabalho. Quem trabalha com esses valores acaba se desenvolvendo e é uma honra pertencer a uma linha de sucessão de pessoas que chegaram no Brasil sem nada, mas com vontade, desejo e propósito e fizeram tudo o que fizeram — avalia.
Castellan destaca ainda que, mesmo sendo uma comunidade que externa um comportamento mais reservado, tem também por característica o acolhimento e o bom convívio com diferentes culturas. Razão pela qual cada evento do sesquicentenário é um convite a toda a população gaúcha para confraternizar e conhecer melhor os costumes e a história do italiano gaúcho:
— Apenas na região de Caxias do Sul temos 27 etnias, e é essa mistura de raças, de valores, de costumes e culturas que enriquece muito e torna única nossa região. Porque todos querem a mesma coisa, que é prosperar e ser feliz. O calendário do sesquicentenário quer chegar a toda a população gaúcha, com eventos que estão sendo muito bem planejados, como foi, por exemplo, a Festa das Colheitas, que tivemos em março em Caxias.
20 de maio, a data-símbolo
A colonização italiana no Rio Grande do Sul teve origem em Nova Milano, distrito de Farroupilha. Em 20 de maio de 1875, data-símbolo da chegada, instalaram-se na localidade as três primeiras famílias, cujos patriarcas eram Stefano Crippa, Luigi Sperafico e Tommaso Radaelli. O grupo deixou a região da Lombardia em janeiro de 1875, viajou de trem de Milão a Gênova - passando por 23 túneis - e, no Porto Ligure embarcou ao Brasil.
O diferencial deles, assim como outros imigrantes que vieram ao Estado, em comparação aos que se instalaram em São Paulo, é que aqui eles pagaram por terras devolutas do Império, desenvolvendo a região. Em SP, foram substituir mão de obra escrava nas fazendas de café.
Cobertura especial
Os veículos do Grupo RBS prepararam uma intensa cobertura multimídia do sesquicentenário da imigração italiana no Estado, que irá aproximar ainda mais o público da atmosfera festiva que irá marcar o calendário oficial, com programação até dezembro. A seguir, confira o que está previsto em cada mídia:
TV
- Editorialmente, a pauta dos 150 anos da Imigração Italiana será abordada no Jornal do Almoço. Conteúdos irão explorar a origem dos primeiros imigrantes, as cidades onde tudo começou e o desenvolvimento dessas regiões
- No programa Baita Sábado, durante seis episódios, a temática será abordada em quadros especiais sobre turismo e gastronomia
Rádio
- Durante o mês de maio serão apresentados quatro quadros especiais na rádio Atlântida. Também terão programetes de conteúdos na Gaúcha Serra, de abril a junho
- De abril a junho, o videocast Aconteceu no RS dedicará 12 episódios à temática da Imigração Italiana
- Também o programa A Tua Voz Pelo RS irá levar três programas da grade premium da Gaúcha para a Serra (cidades ainda a definir) para a celebração dos 150 anos
Jornal / Digital
- No dia 20 de maio, um caderno especial será encartado no jornal Pioneiro com reportagens, entrevistas e curiosidades sobre os 150 anos da Imigração Italiana. Ainda em maio, um material em formato de história em quadrinhos irá recontar a história dos primeiros imigrantes
- Além do conteúdo do caderno, o assunto será pauta quinzenal no noticiário de Zero Hora
- Também será produzido, para GZH, vídeos curtos e um quiz sobre o tema, além de stories nas redes sociais de GZH e webstories nos sites. As publicações serão veiculadas no Instagram do Pioneiro e de GZH, além do TikTok de GZH e Youtube de GZH
- O Destemperados também produzirá um especial explorando o melhor da gastronomia italiana no Rio Grande do Sul