Um projeto criado em sala de aula vai auxiliar no reflorestamento de áreas atingidas pelos deslizamentos de terra em Bento Gonçalves. A iniciativa, chamada Bombas Verdes, teve a primeira etapa nesta quinta-feira (28), quando 1,5 mil cápsulas de argila carregadas com sementes foram lançadas com a ajuda de uma aeronave da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em localidades que sofreram com desmatamentos após as movimentações de terra.
A ação é liderada pelo Colégio Sagrado Coração de Jesus, em parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, e envolveu estudantes de 24 turmas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental e também as famílias. Durante o aprendizado, os alunos sugeriram criar um projeto para além da escola que pudesse contribuir com a cidade - uma das mais atingidas pelos deslizamentos após as fortes chuvas de maio. Com isso, chegou-se à sugestão de criar as chamadas bombas verdes.
— É uma mistura de argila, substrato de terra e a semente de árvores nativas, como pitanga, cerejeira, pau-ferro e a própria araucária. A planta encontra ali todos os nutrientes necessários para se desenvolver. Os alunos levaram os materiais para casa e fizeram as cápsulas, em formato de bolinha, com a ajuda das famílias. Depois de secas, elas ficam sólidas e prontas para serem deixadas na natureza — explica a coordenadora pedagógica do colégio, Andréia Minozzo Omizzolo Rigotti.
A técnica, segundo a professora, surgiu no Japão e se espalhou pelo mundo como uma maneira prática de restaurar ecossistemas. Entre os desafios do projeto, Andreia explica que foi difícil encontrar sementes das árvores, uma vez que elas estavam disponíveis apenas como mudas. Por isso, a iniciativa conta com diferentes variedades de árvores que, no futuro, devolverão o verde para a cidade.
— É uma emoção muito grande, justamente no Dia de Ação de Graças (data tradicionalmente celebrada nos Estados Unidos para agradecer pelas conquistas) a gente poder fazer algo que contribua com o desenvolvimento do nosso estado, tão atingido pelas chuvas — afirmou a diretora, Julia Poletto.
As ações na região serão concentradas nos distritos de Faria Lemos e Tuiuty. Na próxima etapa, em dezembro, outras 3 mil cápsulas serão deixadas em áreas de difícil acesso com a ajuda do grupo Pé na Lama, que auxiliou com ações solidárias durante os períodos mais críticos das chuvas no Rio Grande do Sul.
140 deslizamentos em 6 horas
Um grupo técnico apontou que Bento Gonçalves teve 140 deslizamentos num intervalo de seis horas em 1º de maio deste ano. A conclusão é do Núcleo de Riscos Geológicos, criado pela prefeitura com equipes de várias partes do país. A maioria nas localidades de Faria Lemos, Eulália, Vale Aurora e Rio das Antas.
O grupo também identificou 84 bloqueios em estradas municipais, 13 em rodovias estaduais e 10 em rodovias federais. Entre as regiões em que ainda há equipes trabalhando estão São Luiz das Antas, Eulália, Linha Alcântara, Vale dos Vinhedos, 40 da Graciema e São Valentim.
Outra constatação do núcleo é de que a maioria das rupturas nos terrenos ocorreu a altitudes entre 400 e 500 metros.