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Jorge Ronaldo Córdoba Borges, 49 anos, sobrevivente do incêndio do casarão que provocou a morte de uma pessoa ainda não identificada no bairro Rio Branco, em Caxias do Sul, relembra os momentos de tensão que viveu na noite de 27 de maio. Confira:
Pioneiro: Onde o senhor estava quando o fogo começou?
Jorge Borges: Aqui na frente (da barbearia), olhando a greve dos caminhoneiros. Estava um dia claro. Não tinha chuva nem tempo ruim. Os caminhoneiros vieram até o canto do quartel (3º GAAAe), depois desceram para o Centro. Fiquei conversando com uns dois, três inquilinos. Depois, subi para a cozinha. Já era umas sete e pouco, tinha anoitecido. Fui buscar uns negócios para fazer o jantar. Não vi nada de fumaça, de fogo. Daí, já era quase oito (20h). Estava terminando de jantar e ouvi um gritedo do pessoal da rua. Parava carro e moto, buzinavam. Eles diziam "socorro, chamem a polícia e os bombeiros que tem fogo na estofaria". Olhei pelas janelas e não vi nada.
Quando o senhor percebeu o prédio incendiando?
Eu desci a escadaria rápido. Quando cheguei a uma distância, na porta da estofaria, só vi aquela língua de fogo e fumaça e uns estouros. Tonteei e pensei: "está ruim isso aqui". Se eu espero mais um minuto, não saía mais dali. Subi correndo para chamar o pessoal nos andares em que estavam e a fumaça subiu mais depressa. Peguei uma cadeira que tinha na cozinha e comecei a bater nas paredes e ninguém se acordou. Fui no quarto pegar documentos e uns aparelhos e não atinei mais nada. Estava tonto. Subi numa janela grande do terceiro piso e pulei. Caí em cima de umas guias (toras de madeira). Se a guia não arrebenta e não fica meio trancada (escorada contra a parede lateral), eu descia de ponta no fogo... eu levei o braço e consegui me equilibrar. Foi terrível. Escapei pelas mãos de Deus.
O que o senhor acha que provocou as chamas?
Parte elétrica, não foi. Se fosse, caía as chaves e incendiava os fios. Pensei em curto-circuito, mas não caiu a rede, não deu estouro, nada. Se acabasse a luz, eu não tinha achado a janela.
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