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Um dos símbolos religiosos mais conhecidos dos bairros Santa Catarina e Pio X ganha inauguração digna de sua relevância histórica. Datado de 1881, o Capital da Mariana, na Rua Matteo Gianella, 499, será entregue totalmente recuperado à população neste sábado, às 16h. A cerimônia inclui bênção do padre Renato Ariotti, duo de violino com os músicos Zilá e Ítalo Nichele, além de homenagens preparadas por moradores próximos.
Blog Memória: o Capitel da Mariana e as lembranças de dona Suely Bascú
Entre eles a professora aposentada Edit Maria Corso, 75 anos. Devota "desde sempre", ela lembra de acompanhar a mãe e as vizinhas nas rezas do terço junto ao capitel desde a infância, na década de 1940.
- Era um ponto de referência religiosa e de quem buscava o balneário próximo do campo do Caxias - recorda.
Uma frase dela também destaca a importância da recuperação e o vínculo da comunidade com o espaço:
- Nós pertencemos ao capitel, não é ele que nos pertence.
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O processo de recuperação teve início no ano passado, por meio de um projeto do arquiteto Luiz Pedro Sambaquy, com acompanhamento da Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural da Secretaria da Cultura.
O interior do capitel abriga atualmente uma estampa emoldurada de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, uma referência à original trazida da Itália pela família de Giovanni Michele. A original - e as de São Francisco e de Santo Antônio, agregadas tempos depois - sumiram ao longo dos anos em que o capitel ficou a mercê de vândalos e da falta de proteção.
Conforme Liliana Henrichs, diretora do Departamento de Memória e Patrimônio Cultural, o espaço, atualmente cercado e protegido, deverá futuramente se integrar ao jardim do que vier a ser construído no terreno. Com a recuperação, uma tradição também promete voltar.
- Em referência ao 7 de Outubro, Dia de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, todo dia 7 de cada mês as pessoas da comunidade vão se reunir para rezar o terço junto ao capitel - anuncia Liliana.
A reconstrução do capitel, bancada pela empresa Senador Empreendimentos Imobiliários, teve um custo de R$ 80 mil.
A HISTÓRIA
* O Capitel da Mariana foi construído pelo imigrante Giovanni Michele em 1881. Foi uma homenagem à Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, em retribuição a uma graça alcançada - no caso, a cura de uma grave enfermidade. Em um nicho construído em sua propriedade, Giovanni colocou um quadro com a figura da Madona. O adorno fora trazido do Tirol, região italiana de onde a família Michele emigrara.
* Com a morte e dispersão dos descendentes da família Michele, os antigos compadres e vizinhos Antão e Mariana Bascú passaram a cuidar do capitel onde, todos os dias, reuniam-se várias pessoas para recitar o rosário. Foi quando o local passou a ser conhecido como o "Capitel da Mariana". Com o passar dos anos, o terreno onde estava o capitel foi vendido e coube à neta dos antigos vizinhos, a professora Suely Bascú (1914-1999), cuidar daquele bem, conforme prometera à avó Mariana, já falecida.
* A ameaça de demolição fez surgir uma alternativa: remover o capitel para a sua propriedade, não muito distante dali. Dona Suely submeteu seu projeto à avaliação do padre Eugênio Giordani, vigário da paróquia, que imediatamente aprovou a ideia. Na época, dona Suely lançou um desafio à padroeira Nossa Senhora do Rosário de Pompeia: "se ela (a santa) quiser continuar no capitel, faça com que ele (o capitel) seja transferido uns metros sem precisar ser demolido!".
* Assim foi feito: a edificação resistiu e foi instalada em um local de destaque no jardim de entrada da centenária casa de dona Suely, em meio a dálias, margaridas e árvores frutíferas. A tradição da reza do terço e dos encontros com a comunidade de vizinhança persistiram até o falecimento de dona Suely, em 1999.
* Após um período de indefinições, o forte envolvimento católico da comunidade moveu a destinação da propriedade à paróquia de São Pelegrino, que a transferiu, por venda, ao empresário Lóris Pasqual (in memoriam), em 2003. O capitel, solitário após a demolição da casa, resistiu. Ainda em 2002, ele foi considerado bem cultural, sendo inscrito no Livro de Tombo do Município como "patrimônio histórico".
Fonte: Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural da Secretaria da Cultura