O apreço pelo país natal levou um imigrante italiano da região do Vêneto a escolher a Itália para nominar a uma das netas, a caxiense Olívia Italia Zanol, 106 anos completados no mês passado.
- Ninguém me chama de Olívia, todo mundo me conhece por Itália. Eu gosto - conta.
Lúcida e ativa, é capaz de lembrar dos primórdios da Praça Dante Alighieri - "parecia um potreiro" - e do bairro de São Pelegrino - "era tudo mato", bem como de encerar o assoalho ou preparar a própria comida, que ela divide com os gatos. Solteira e sem filhos, trabalhou desde criança vendendo leite e verduras "na cidade" - ela vive em Santa Corona -, passando por casas de família até a aposentadoria. Morou em Porto Alegre, Brasília e São Paulo, mas a experiência cosmopolita não minimizou a relação com a terra dos antepassados. Na conversa, dona Itália usa algumas palavras e expressões em italiano, sem se dar conta - ao se referir a 'ela', fala sempre 'lei' (o pronome pessoal feminino, em italiano). Os 12 terços que reza por dia, têm orações em italiano, como aprendeu com a avó.
O segredo da longevidade, segundo ela, é uma boa alimentação - mesmo que não tenha nada de frugal:
- Mangiare polenta e radicci temperado com toucinho.
Resignada, ela não faz questão de comemorar aniversários.
- Não é bom viver tanto, todo mundo que conheci já morreu - sentencia.
Para se ter uma ideia, até ela aprender, na escola, a escrever o próprio nome ainda havia levas de imigrantes italianos chegando ao Rio Grande do Sul.
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