
Quantidade acima da esperada, sabores e aromas mais intensos e concentração de açúcar mais elevada caracterizam a safra da uva 2024/2025, que vai superar as expectativas das entidades e dos produtores da fruta na Serra.
No início da vindima, em dezembro, a projeção do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Uva e Vinho era de que 700 milhões de quilos fossem colhidos. Agora, o Consevitis-RS já projeta que serão 750 milhões de quilos no Estado, com predominância na Serra, responsável por 80% da produção gaúcha. Como no ano passado a safra foi de 541,52 milhões de quilos, o aumento será de 38,5%.
Já a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) prevê que a produção alcance 860 milhões de quilos. O cálculo engloba toda a fruta com propósito comercial. Para transformação industrial são cerca de 745 milhões de quilos, estimativa que se equivale à do Consevitis-RS. Para transformação doméstica, que corresponde à produção de geleias e doces, por exemplo, são 15 milhões de quilos. Para consumo in natura, a Emater prevê 100 milhões de quilos.
— Se a gente olhar o histórico das safras, salvo alguns problemas climáticos que tenham prejudicado, sempre fica nesta média. Uma safra mediana boa dá entre 700 a 750 milhões de quilos. Neste ano tivemos uma produção ótima, atende todo o mercado e também satisfaz os produtores. Estamos trabalhando com uma qualidade superior — explica o presidente do Consevitis-RS, Luciano Rebelatto.
A expectativa de frutos de qualidade vinha desde antes do início da colheita. Isso porque o clima colaborou com o período de plantio, brotação e maturação das uvas. Mesmo com a enchente de maio de 2024, que prejudicou outros tipos de culturas, a uva não sofreu com o impacto da chuva.
— Surpreendentemente houve uma ótima brotação, em número e vigor das gemas, fertilidade (número de cachos/broto) dentro da média e tamanho/peso dos cachos acima da média — explica o engenheiro agrônomo do escritório regional da Emater de Caxias do Sul, Enio Todeschini.
As horas de frio, ausência de geadas tardias e as condições climáticas do período de setembro a dezembro favoreceram o florescimento, o desenvolvimento e a maturação dos frutos.
Neste ano, o ciclo da uva não sofreu com nenhuma situação climática anormal durante o desenvolvimento. Durante o período da colheita, o clima foi seco, situação que ajuda amadurecer a uva de forma mais consistente, fazendo com que se concentre mais açúcar e sabores, explica o presidente do Consevitis-RS, Luciano Rebelatto.
— É uma safra que vai marcar positivamente a história das safras. Os produtos que estão sendo elaborados derivados de uva vão apresentar características muito diferentes dos demais em sabores, aromas. Isso tudo se amplifica muito em função do tempo seco. Historicamente, ela vai ser a melhor das safras. Talvez a de 2020 se compare, mas a de 2025 supera. O clima foi perfeito para a maturação das uvas — afirma Rebelatto.
Sucos, espumantes e vinhos com qualidade superior
A qualidade do fruto colhido reflete diretamente no produto derivado da uva que chega à mesa do consumidor final. De acordo com o gerente agrícola da Vinícola Aurora, Maurício Bonafé, o acúmulo de açúcares nos grãos, garantidos pelo calor durante o período da colheita, conferem sabores e aromas mais intensos.
— Antes do início da colheita, lá em dezembro, tivemos noites com temperaturas mais amenas. Isso ajudou bastante na coloração da uva. Elas estão com uma cor bem escura e chamativa. Isso resultou em qualidade para os sucos e vinhos tintos — explica.
A diferença dessa safra para a do ano passado, conforme Bonafé, é que a última colheita garantiu produtos mais frescos e jovens, com sabores frutados. Já a safra atual, em função do acúmulo de açúcares na uva, serão vinhos com mais potencial de álcool, sucos com potencial em cor e sabores mais intensos.
— A safra do ano passado atingiu o que nós precisávamos em teor de qualidade, mas neste ano temos produtos com mais expressão — aponta.
Expectativas de qualidade confirmadas
A expectativa da Cooperativa Vinícola Garibaldi em dezembro, quando recebeu as primeiras uvas da safra 2024/2025, era positiva tanto com relação ao volume como na qualidade da matéria-prima. Ao fim da colheita, as expectativas se confirmaram, conforme afirma o presidente da cooperativa, Oscar Ló.
— Estamos tendo uma safra normal dentro do volume e uma qualidade muito boa. Tivemos o período chuvoso em maio de 2024, mas as parreiras estavam em dormência, então, tirando os vinhedos que a água levou, nos outros não tivemos problema — aponta Ló.
Da primavera até dezembro, com dias de sol e clima quente, as uvas se desenvolveram de forma positiva. Na colheita, os dias ensolarados garantiram, também, níveis de açúcar elevados nos grãos.
— No nosso caso, para o suco de uva, quanto mais açúcar, melhor. Neste ano conseguimos atingir melhor que no ano passado. Com relação aos espumantes, que é nosso forte, geralmente há o ponto certo da colheita, porque precisa do equilíbrio entre açúcar e acidez. Em alguns casos, a uva foi colhida antes para garantir a qualidade do produto final — afirma.
Uma oportunidade gerada pelas uvas tintas colhidas neste ano foi a produção de vinhos de guarda (aqueles que precisam envelhecer para chegar ao ponto de consumo).
— As vinícolas que quiserem fazer os vinhos de guarda, sem dúvida, devem estar conseguindo fazer excelentes vinhos — explica Ló.
Safras de uva dos últimos 10 anos
- 2015: 752.838,855
- 2016: 350.761,504
- 2017: 801.743,227
- 2018: 724.976,785
- 2019: 681.803,192
- 2020: 649.589,919
- 2021: 951.957,21
- 2022: 774.975,295
- 2023: 764.265,91
- 2024: 541.519,37
- 2025: previsão de 750.000
*valores em toneladas
Fonte: Sistema de Informações da Área de Vinhos e Bebidas - Ministério da Agricultura e Pecuária