As recentes denúncias do Ministério Público (MP) sobre adulteração de leite não estão impactando somente as sete marcas envolvidas na polêmica. Desconfiados, parte dos consumidores deve minimizar o consumo do produto e assim todo o setor acabará, ao menos a curto prazo, sendo prejudicado. A previsão é de Gilberto Kny, presidente da Cooperativa Piá, de Nova Petrópolis, que não faz parte das marcas denunciadas e é líder absoluta no setor laticínio no Estado.
Se por um lado o momento é considerado complicado, por outro, o setor pode estar vivendo uma época de oportunidades, já que as empresas que escaparam ilesas da fraude estão tendo as marcas fortalecidas. Sabendo disso, a Piá nem pensa em alterar os planos de expansão: até julho, uma nova planta industrial de processamento de frutas passará a operar e, até o final do ano, a unidade de laticínios será ampliada. Os dois projetos, juntos, somam um investimento de R$ 46 milhões.
As perspectivas da cooperativa também seguem sendo de crescimento. Conforme Kny, a Piá, que recebe diariamente 600 mil litros de leite, projeta faturar R$ 545 milhões neste ano (um aumento de 10% em relação a 2012).
Em entrevista ao Pioneiro, Kny explica também como a cooperativa controla todas as etapas que os produtos da Piá passam e ressalta a importância de fazer bem o "tema de casa". Confira alguns trechos:
Pioneiro: Com as denúncias recentes de adulteração de leite, o senhor teme que o setor ficará desacreditado e as pessoas acabarão limitando o consumo do produto?
Gilberto Kny: Em um primeiro momento, acredito que vá ter uma redução do consumo sim e é lamentável que o setor tenha que passar por isso. É o que sempre digo: cada um precisa rigorosamente fazer o tema de casa. Desde o início da Piá, em 1972, temos primado por isso porque a origem da cooperativa já veio de um projeto em parceria com a Alemanha em que o ponto de partida é cuidar da qualidade do agricultor, da qualidade da logística, da qualidade da chegada, da qualidade da indústria. O crédito só vem se você rigorosamente cuida de tudo isso. O índice tem que ser zero de risco ao nosso consumidor. Acho que nesse momento muitas reflexões precisam ser feitas. Todas empresas precisam continuar redobrando a seriedade máxima em controles. A cadeia do leite tem muitas fases que começam na boa assistência para o produtor, passando pela seleção do leite na hora que ele é carregado no caminhão, na idoneidade do transportador, depois chega no posto e precisa ter um rigor com profissionais competentes e sérios para fazer todas as provas físicas, químicas e microbiológicas. Na indústria novamente, é preciso mais um filtro que necessita de muito controle. Ainda dentro da indústria, antes da quarentena sair para o consumidor, temos mais uma prova final. Existem muitos pontos de controle. As empresas precisam tomar como uma questão de ordem para o consumidor acreditar no produto que ele está consumindo.
Pioneiro: Como funciona, na Piá, o sistema de recolhimento de leite nas propriedades associadas? A Piá trabalha com os chamados atravessadores para esse sistema de transporte?
Kny: A logística da Piá, desde 1972, é de transportadores de leite autônomos que estão ligados há mais de 20, 30 anos na cooperativa. Eles passam, uma ou duas vezes por ano, por procedimentos operacionais padrões de conduta de capacitação. Como a Piá tem muito forte o fomento do campo e todos os produtores são conhecidos por nosso quadro técnico, todos conhecem muito também bem nossos transportadores. Existe um controle, uma disciplina, e sempre se busca uma idoneidade máxima. Mas isso sozinho não resolve nada. Na recepção, na hora que o leite chega no posto, ele precisa ter um controle rigoroso e seguir todos os protocolos do Ministério da Agricultura. Todas essas fases precisam ser rigorosamente bem executadas 24 horas por dia. Do posto de recolhimento tem uma segunda fase para a indústria, um segundo percurso, e nesse caminho pode acontecer alguma falha, por isso que depois de chegar na indústria todo protocolo deve ser refeito.
Pioneiro: Essas provas todas são diárias então?
Kny: Sim. Como a Piá trabalha 24 horas por dia, em três turnos, temos que ter disponibilidade de assistência 24 horas por dia de forma ininterrupta na coleta e depois dentro da indústria também, para todas as fases. Se uma escapar, não adianta ter realizado bem todas as outras.
Pioneiro: O senhor acredita que as indústrias envolvidas nas denúncias devem ser punidas ou a responsabilidade é exclusiva dos transportadores?
Kny: Acho que cada um faz a sua parte. É lamentável o que aconteceu com os transportadores, mas o produto adulterado não pode chegar à caixa. A punição dos transportadores é uma situação que tem que ser forte, mas a indústria tem que fazer a parte do controle de ingresso do produto no mercado. Tem que barrar o inimigo de entrar dentro da tua casa. Temos, obrigatoriamente, que fazer o tema de casa.
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