Os fofinhos vaga-lumes são tipo besouros que emitem luz. Vejam que curioso: conheço um monte de gente que detesta besouros. Nunca vi ninguém reclamar de vaga-lumes, nem mesmo minha irmã, Tine, que detesta "bichos que voam". A presença desses insetozinhos que se acendem e apagam é sempre comemorada, até com gritos e palminhas. Amigos param para contemplar pirilampos em meio à escuridão, pensar neles evoca lembranças de infância no interior, em meio ao silêncio e à natureza. Faz tempo que não os vejo assim, ao vivo.
O interessante, no caso desses insetos, é que só as espécies mais evoluídas possuem a bioluminescência (como é chamado o fenômeno da emissão de luz), porque essas piscadelas facilitam a comunicação sexual e a defesa. Aos que não emitem luz, resta dedicarem-se às atividades diurnas.
Leia mais
Página no Facebook faz sucesso ao retratar dia a dia dos caxienses
Doce tradição: produção de chimia de figo reúne gerações ao redor do tacho
Com foco no amor próprio, curso aborda a sedução e a energia feminina
Incrível mesmo é que todos nós, humanos, também somos emissores de luz – uns mais, outros menos. Acredito que podemos sentir as vibrações alheias. O estranho é que, ao contrário da receptividade que temos com os vaga-lumes, que chamam atenção justamente porque são iluminados, boa parte das pessoas não consegue tolerar alguém brilhando mais do que elas. Parar para analisar esse brilho todo parece absurdo, fora de cogitação. Elogiar para as pessoas próximas a existência do brilho alheio? Nem pensar.
A saída mais fácil costuma ser tentar ignorar o brilho que, muitas vezes, ofusca os olhos. Ou, melhor, reclamar e tentar desmerecê-lo.
Ah, se esses humanos-besouro soubessem que, mesmo sem brilhar tanto, ainda podem encontrar possibilidades interessantes... Em vez de refletir e tentar evoluir, criticam quem já está um passo à frente. Pouco chato esse tipo de comportamento que, volta e meia, permeia nossas relações sociais?Mas nem tudo está perdido. O britânico Charles Darwin (1809-1882) convenceu a comunidade científica sobre a teoria da seleção natural, à qual somente os seres mais aptos evoluiriam.
Já a gente – em outro contexto, claro – pode optar por evoluir, viver e se tornar melhor, inclusive melhorando o entorno. Meus breves estudos da Cabala apontam que um dos princípios básicos do misticismo judaico diz que recebemos luz dependendo das dificuldades das ações empreendidas por nós. Conectando com uma energia superior, podemos superar obstáculos e garantir força.
Não parece perfeito que todos se concentrassem em emitir a maior quantidade de luz possível, em vez de tentar enfraquecer (ou apagar) a luz do outro? Obviamente não é o caminho mais fácil, mas certamente é mais digno e recompensador. Até porque, no final das contas, o que realmente vai fazer a diferença é quanta luz revelamos e propagamos por aí.
Opinião
Tríssia Ordovás Sartori: a contradição do vaga-lume
Boa parte das pessoas não consegue tolerar alguém brilhando mais do que elas
Tríssia Ordovás Sartori
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: