Adoro esses fenômenos, que acontecem com cada vez mais frequência graças ao mundo hiperconectado, em que um texto quase desconhecido acaba se tornando onipresente nas redes, com pessoas de todas as crenças e jeitos o compartilhando. Desta vez, foram as resoluções de Ano-Novo da Virgínia Woolf (1882-1941). Das mais conservadoras às mais progressistas, muitas mulheres passaram a sentença adiante – incrível, não? Uma espécie de fenômeno raro atualmente, de que mais vale a mensagem do que o mensageiro – apesar de eu gostar bastante da autora britânica.
Considerada uma das escritoras mais importantes do Século 20, ela trouxe uma série de contribuições importantes para o romance moderno, como o monólogo interior e a narrativa poética. Escreveu, também, ao longo da vida, além de livros clássicos como Mrs. Dalloway, 26 volumes de diários, de onde o texto que viralizou foi retirado.
Tais resoluções de Ano-Novo datam de 1931 e trazem sentenças impressionantemente atuais:
“Ser livre e gentil comigo mesma, não levar isso a festas: sentar-me em particular lendo no estúdio”,
“Parar de me irritar pela garantia de que nada vale a irritação”,
“Às vezes ler, às vezes não ler”,
“Sair, sim – mas ficar em casa apesar de ser convidada”,
“Quanto a roupas, comprar boas”.
São, de fato, ótimas ideias a serem perseguidas. Por serem prosaicas, parecem mais aplicáveis do que “aprender uma nova língua”, “fazer exercícios regularmente”, “tirar o açúcar da dieta”, só para citar alguns dos clichês preferidos nesta época do ano. Parece mais inteligente, até, começar com pequenos passos, onde o esforço possa ser notado já nas primeiras interações – e aí ganha-se gás para dar passos mais longos, nessas metas de médio e longo prazo, sem (tantas) frustrações pelo caminho.
Metas como chamar amigas para mais drinks ou cafés, ser mais generosa consigo mesma, reservar tempo para viver o presente, dizer para as pessoas como elas são importantes e sair para dançar com regularidade não são mirabolantes e fazem muita diferença na soma dos dias. Vale celebrar a simplicidade, que nem sempre é fácil de alcançar.
Voltando à Virgínia Woolf e suas resoluções: em 1936, ela tornou a escrevê-las (essas eu ainda não tinha visto por aí) e versavam, entre outras, sobre não ler muitos jornais semanais até terminar a obra Os Anos (lançado em 1937), para não se distrair. Ao final delas, sentenciou:
“Totalmente ser a mais essencial e a menos superficial possível, mais física e menos apreensiva possível”.
Bom como fio condutor, porém menos factível para ser realizado de uma semana para outra, né?
Infelizmente, nem a própria autora conseguiu realizar isso tudo. A última vez que escreveu num diário foi em 1941, quatro dias antes de se suicidar aos 59 anos. As percepções sobre protagonismo feminino, liberdade, gentileza e humor, no entanto, permanecem inspirando mulheres de diferentes vertentes, mesmo nove décadas depois.
Eis um jeito lindo de começar o ano. Feliz 2025!