Nunca fui de chorar muito. Mesmo quando sentia aquela vontade de lavar a alma e refrescar os olhos, acabava encontrando outros jeitos de desaguar minhas dores, cansaços ou frustrações. Não que eu seja um alguém durão ou insensível — longe disso. Mas, ultimamente, percebo que talvez tenha me negado o direito de chorar quando mais precisava. A ironia é que agora sigo pelo caminho oposto: ando chorando até com comercial de margarina.
A grande surpresa, no entanto, veio semanas atrás, quando me vi chorando diante de algo improvável: uma pegadinha de “câmeras escondidas” na televisão. Seria esse o sinal do fim dos tempos?
Domingo à noite sempre teve um quê de melancolia por aqui. Cresci num ambiente onde essa noite não era sinônimo de grandes aventuras ou diversão; a tristeza parecia até uma tradição, algo cultural, vai saber. Aquele ritual de sentar no sofá, encarar a tevê e preparar-se para a segunda-feira sempre soou levemente mórbido. Quando comecei a morar sozinho, tratei de reverter isso. Resolvi que os domingos seriam dias para aproveitar, até porque, na maioria das vezes escolhemos e almejamos a rotina que temos hoje.
Mas aquele domingo foi diferente. Enquanto trocava de canal, dei de cara com as “câmeras escondidas” do programa Sílvio Santos. Nostalgia pura. Esperava encontrar o de sempre: piadas bobas, risadas constrangedoras, entretenimento leve. Só que, para minha surpresa, em vez de gargalhar, acabei chorando. Uma pegadinha natalina mostrava um motoboy sendo recompensado com dinheiro após ajudar uma pessoa com deficiência. Então lá estava eu, às lágrimas, comovido por algo que não esperava me emocionar.
A primeira reação foi de preocupação. Afinal, ando chorando por tudo e qualquer coisa. Talvez eu esteja mais coração mole, pensei. Porém, refletindo melhor, acho que estou é exausto. Quem não está? Vivemos submersos em uma piscina de exaustão mental, e o cenário ao nosso redor só piora: tragédias, caos, desgraças — uma após a outra. Como nadar nesse turbilhão quando nunca aprendemos direito a boiar?
Cheguei a rir da ironia. No meio de tanta pressa, chorar virou um luxo raro. Mas naquela noite, nos poucos minutos diante da tevê, encontrei um espaço inesperado para liberar o acúmulo. Foi como se aquele momento bobo me permitisse descarregar o peso de sentir o mundo que parece nos engolir de forma cada vez mais violenta. Como diria uma blogueira por aí, “me mimei” — no caso, permiti que o choro viesse quando menos esperava.
E enquanto ainda enxugava as lágrimas, ri. Ri porque a cena era absurda, mas também porque talvez fosse verdade: deve ser o fim dos tempos mesmo.