Passamos uma vida inteira acumulando coisas. São boletos impressos em papéis esquecidos em uma gaveta da sala, souvenirs ganhados no pós-viagem de alguém que lembrou da gente, amigos e histórias e perdas e algumas conquistas e outras tantas bagagens. Junto, acumulamos também diversos aprendizados. Dentre os principais ao senso comum, a velha máxima de priorizar-se é destacada desde cedo porque, possivelmente, é a mais dura e incômoda tarefa a se realizar. E é justamente sobre ela que recentemente tenho me questionado.
Escutei a música Epitáfio, dos Titãs, quando nem sabia o que “epitáfio” significava. Mas já eram tempos com acesso (ainda restrito, claro) à internet, então só foi necessária uma busca rápida. De início eu lembro de ter achado a música um pouco cafona, bem coisa de tiozão que posta no Facebook com uma foto de paisagem. Hoje, penso diferente.
Paro pra pensar em tudo aquilo que eu me arrependeria de não ter feito se minha vida chegasse ao fim hoje. Por sorte ou coragem, a lista não é grande. Fiz bastante até aqui, e sei que naturalmente vou querer fazer mais e mais. Entretanto, no meio desta reflexão também cabe outro velho aprendizado: nem sempre é sobre a quantidade. Apesar de poucos itens, minha lista trazia o indispensável. E foi assim que coloquei como principal arrependimento essa história de não me priorizar.
Como consequência de minhas próprias escolhas, dias atrás adoeci. Não precisei de nenhum diagnóstico para ter certeza de que foi apenas um reflexo de uma rotina inconsequente e desequilibrada, embalada pelo excesso de acreditar que as pausas são artigos secundários. Assim, com o estômago triplicado e uma dor latejante, pensei num epitáfio-antes-mesmo-de-morrer, e obviamente eu desejei ter cuidado mais de mim.
Não negligenciar-se em tempos atuais é tarefa delicada, visto que o tempo que sobra (quando sobra) já vem com uma sobrecarga que nem sempre permite um descanso pleno. Vivemos em um agito constante e tocamos em frente do jeito que se pode. E assim seguimos, negando a certeza de que aprendemos mas não colocamos em prática: sem a gente, nada acontece. E neste ponto aqui, somos insubstituíveis sim. Do nosso jeito, ninguém faria. Então por que abandonar-se seria uma opção?
Um dos meus maiores medos é chegar lá na frente tendo acumulado uma vida cheia de futuros do pretérito indicativo. Se eu tivesse feito isso ou aquilo, eu poderia, eu deveria, eu conseguiria, eu tentaria, eu arriscaria, eu mudaria, eu seria... Mas não foi. Não fui. Não estou sendo. E se assim continuar, vou morrer ciente de tudo aquilo que devia ter feito, porém não fiz — fosse por pressa, teimosia ou pura ignorância. Pra que serve tanto acúmulo se o mesmo não for usufruído?