O último mês reservou diversas viagens a trabalho que me fizeram conhecer estradas pelas quais nunca tinha passado antes. Durante o caminho de ida, a expectativa e ânsia pela chegada fizeram com que eu reparasse em cada detalhe, curva, placa e por aí vai. Já no regresso, o sentimento que me tomou por completo foi aquele que existe desde a infância: a volta sempre parece ser mais curta.
Tentei pensar em uma explicação. Será que o trajeto parece ser mais rápido justamente porque ele já foi desbravado durante a ida? Segundo os cientistas, não. O tal “efeito viagem de regresso”, estudo capitaneado por Niels Van de Ven, constatou que a mesma sensação existe dentro de um avião – por mais que não consigamos diferenciar o caminho em meio às nuvens. A explicação, então, estaria na ideia de que a excitação que recai sobre o ir faz com que ele tenha muito mais peso, e nos frustramos ao perceber que o chegar leva mais tempo do que pensamos. Já nas voltas, com a lembrança da demora ainda fresca, embarcamos cientes do longo trajeto – o qual, no fim das contas, parece ser mais curto simplesmente porque a excitação já não existe.
É um pouco complicado, sim. Porém, atrelando isso tudo ao cotidiano, fica simples de entender que o tempo sempre demora para passar quando estamos focados nele. Na ida, observamos a rota, o GPS que calcula as horas restantes, o relógio que nos apressa porque temos hora marcada, e assim cada quilômetro parece se arrastar. Na volta, sem tanto compromisso – e quase sempre desanimados por justamente estarmos voltando –, o tempo é o coadjuvante silencioso que esquecemos até que cruzamos a linha de chegada.
O devaneio como um todo me fez lembrar de Nietzsche e o Eterno Retorno. A ferramenta busca provar que o mundo nada mais é do que um fogo eterno que à medida que se consome, também se recria. Isso significa que o universo (e toda a sua energia) é recorrente e sempre acontece e existe de forma auto semelhante um número infinito de vezes. Vivemos dentro desse padrão cíclico, onde estamos sempre indo e voltando, tal qual uma cobra em círculo que persegue sempre o próprio rabo.
“Tá chegando?”, era a pergunta que eu mais fazia no caminho até a praia quando criança. E a resposta que nunca recebi é aquela que hoje compreendo: estamos e não estamos; estamos indo, mas o chegar é relativo. Quando nos damos conta, outra vez já é hora de voltar... E parece rápido, né? Porque logo a gente já espera uma nova partida.