Acho engraçada a forma como sempre somos incentivados (e desafiados) a provar alguma coisa para alguém. Pior de tudo é saber que esse alguém é o outro, e muitas vezes esse outro não torce pela gente da forma como acreditamos. Basicamente, este ciclo se repete do início ao fim da vida: precisamos provar que aprendemos o alfabeto e a tabuada, que somos capazes de passar no vestibular, que alcançamos o melhor cargo do melhor emprego, que podemos criar e manter uma família-comercial-de-margarina, e que podemos nos aposentar com uma boa grana na conta já que provamos, sim, que somos bons.
Em uma autoavaliação rápida mas nem tanto, acredito que me levei a sério demais durante muito tempo. Percebi que, sem contar todas as provações da adolescência, já faz uns dez anos que tento provar aquilo que faço e como isso vale e impacta. Não digo que provo a mim mesmo, porque francamente eu sei exatamente que é só querer para eu conseguir realizar tudo – o nosso querer é muito poderoso. O conflito, então, está nessa necessidade estrutural de mostrarmos ao outro quem somos, a ponto de fazê-los se questionar o suficiente para nos entregar o reconhecimento que, lá atrás, fizeram com que a gente acreditasse que precisamos.
Quem sabe a aprovação social seja tardia demais na maioria das vezes. As pessoas mais geniais que admiro eram tidas como loucas ainda em vida. Frida Kahlo, Nietzsche, Kafka e Van Gogh morreram anônimos, e arrisco a dizer que seus trabalhos só foram reconhecidos no post mortem porque a sociedade não estava pronta no momento em que eles existiram. Um detalhe: o mais velho deles, Nietzsche, morreu com apenas 55 anos de idade. Para mim, é o bastante para provar que qualquer reconhecimento póstumo é um atestado de que não soubemos apreciar enquanto a arte existia. De que valem as palmas diante de um caixão?
A próxima geração cresce com medo de ser reconhecida pela atual, sendo que provavelmente só vai agradar aqueles que ainda nem nasceram. Sorte que o pensamento se volta cada vez mais para a disrupção. “Misturo tudo que você não gosta, não leve a mal, quando eu morrer quem sabe eu viro genial”, disse uma cantora jovem com os mesmos questionamentos. Seguindo seus passos, decidi não me levar mais tão a sério. Não mais. Faço o que faço, entenda quem entender, e no fim eu ainda acho graça (fundamental, né?).