

A história acaba sendo sempre a mesma quando vamos ao shopping no tempo livre. Entramos no estacionamento assim que a fila permite, recebemos as boas-vindas de uma voz mecânica que não está de fato feliz em nos ver, retiramos o ticket na cancela e caçamos uma vaga. O passeio, entre uma fila e outra, acaba sendo divertido. Mas o pânico mesmo vem na hora de ir embora. Quem quer ir para casa, antes tem que passar pelo ritual mais ultrapassado e sem sentido: o ticket do estacionamento virou um tipo de pesadelo moderno.
A urgência em substituir o homem pela máquina fez com que acreditássemos que o processo mais óbvio seria o certeiro, a solução definitiva. Trocamos cabines, que antes acomodavam alguém de carne e osso para nos receber, por máquinas que cospem um pedaço de papel. Dane-se a sustentabilidade, danem-se as diversas lições apreendidas durante anos sobre processos inúteis.
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"Está com você?" / "Não está comigo!" são os diálogos-faísca mais tradicionais para o início de um micro desespero na hora de encontrar o ticket. Carregar um pedaço de papel durante as compras, ida à praça de alimentação ou ao cinema – e encontrá-lo ao final de tudo – é tanto atraso quanto decorar a seção em que você estacionou o carro. Quem faz isso?
O questionamento surgiu recentemente, em uma oficina de Design Thinking ministrada pela competente Carol Bücker, da Idealiza. Técnicos de informática, profissionais do setor metal-mecânico, designers e este escritor partilharam o problema. Com a missão de explorar o assunto que visa a experiência do consumidor a partir do processo da empatia, o ticket do estacionamento não demorou para aparecer como exemplo. Um processo que deveria ser simples para o usuário acaba se tornando desgastante.
Para aqueles que compartilham da mesma opinião, fica aqui registrado que a cobrança de taxa em caso de perda do ticket é proibida. Segundo o STJ, a obrigação de controlar o tempo de permanência de cada usuário é de responsabilidade do estabelecimento. Nestes casos, a lei estipula a cobrança do valor mínimo. Apenas. Simples, não?
Diferentemente da saga do ticket de papel que parece não ter um fim próximo. Até lá, meu pai vai ficar repetindo toda vez que passarmos pela cancela: "Sabe essa máquina? Tem uma mulherzinha aí dentro".
Quem dera.