Este sábado (21) já amanhece especial. Será o dia mais longo do ano em quantidade de luz para os habitantes da banda sul da Terra. Também será o dia que decreta o começo oficial do verão, logo às 6h22min. Astronomicamente, tudo deriva da máxima inclinação do nosso planeta em relação ao próprio eixo, agora deixando o hemisfério sul banhar-se mais intensamente de luz solar.
Sigamos à luz da geografia. O atual ponto do movimento terrestre — que astrologicamente marca a entrada do Sol no signo de Capricórnio — também indica que a luz solar incide no globo sobre o Trópico de Capricórnio. No Brasil, essa linha imaginária corta ao meio o estado de São Paulo, o norte do Paraná e o sul de Mato Grosso do Sul, demarcando regiões de clima tropical, acima, e de clima subtropical, abaixo.
Santa Catarina e Rio Grande do Sul são os dois estados mais caracterizados pelas temperaturas amenas subtropicais. No mapa, vemos que as terras gaúchas, em relação ao mar, se afastam mais a oeste, e por isso, aqui, o poente se dará mais tarde em relação a outros estados litorâneos. A metade oeste do Rio Grande, por exemplo, embora por convenção faça parte da mesma hora oficial de Brasília, na realidade ganha uma hora diurna a mais no verão.
Mais luz sobre o Rio Grande do Sul! Bah, essa frase inspira muitas crônicas em diversos enfoques. Mas, por ser verão, e até por nossa necessidade orgânica de luz e calor, vou ficar na simples observação da estação mais solar. Luz máxima no ar! Então, que se elevem os ânimos, que se aqueçam os corações, que aflorem as paixões!
Em sua condição de estado brasileiro mais afastado da zona tropical, o Rio Grande, por essa peculiaridade, talvez seja aquele que mais valorize a luz solar. Sim, é por conhecer bem a estação oposta, com sua longa noite e frio intenso, que o verão se torna a mais desejada temporada. De certo modo, também é quando esse filho tardio do Brasil pode mais se assemelhar aos demais irmãos de calor tropical. Por esse olhar, no verão é quando o Rio Grande do Sul é mais inteiramente Brasil.
É quando por aqui também se pode cantar com conhecimento de causa qualquer canção elegíaca do verão, como Estação da Luz, do pernambucano Alceu Valença. Vamos numa palinha: “Já vem chegando o verão / No trem da estação da luz / É um pintor passageiro / Colorindo o mundo inteiro / Derramando seus azuis”.
Também é quando, num viés mais psicológico, percebe-se o efeito da luz solar sobre o emocional. E pode-se dizer, cantando — pois no verão o Sol, mítico carro do deus Apolo, se traduz em artes —, adeus a dores e medos, e em coro bradar: “E se quiser saber / Pra onde eu vou / Pra onde tenha Sol / É pra lá que eu vou”.
Goste-se ou não, esse é o tempo em que o Sol mais nos envolve e dita o ritmo das coisas. Imagino que muitos habitantes das áreas mais ao norte do planeta sintam certa inveja das andorinhas, que, a partir de setembro, voam para as bandas de cá em busca de calor e vida abundante. Hum, vou me lembrar disso quando reclamar da quentura: lá pelo agora gelado Trópico de Câncer, ao norte, tem assim de gente querendo estar em meu lugar...
E quero contar de uma cidade da Noruega sobre a qual eu li há tempos. Chama-se Ryukan, erguida num vale entre altas montanhas por conta de uma fábrica cujo minério era extraído ali. De setembro a março, quando o Sol vem brilhar mais no sul, a luz não entra no vale, indo bater nas altas encostas. Chegaram a criar um teleférico, por onde os moradores subiam para receber luz solar. Até que instalaram três enormes espelhos nas encostas, que hoje projetam o Sol para a praça central de Ryukan. Uau!
Pois então que venha um colorido verão — e o espero usando alto filtro solar. Por fim, lembro que o Natal, surgido no norte agora invernal, fundiu o nascimento de Jesus com uma antiga celebração pagã ao... Sol!
A todos, um ensolorado e amoroso Natal!