
Será que ouvi um “toca Raul”? Aperto o play em Só Pra Variar. Raul Seixas abre a canção com um bocejo. E canta: “Tem que acontecer alguma coisa, neném, parado é que eu não posso ficar”. E seguem-se ações provocativas, como rasgar dinheiro, jogar fora a dentadura ou fundar mais um partido, em meio ao irônico refrão “só pra variar”, a confirmar a imagem de um inconformado. Raul diz: “É pena eu não ser burro; não sofria tanto”. Sim, dom Raulzito, ser mosca na sopa e perturbar o sono alheio tem um alto preço. Sofre-se muito mais. Essa faceta de despertador incompreendido vem de sua Lua em Aquário. Não tive como não evocá-lo agora, quando os temas aquarianos se destacam no coletivo.
Um desses temas é o sofrimento da consciência ao perceber-se impotente diante do que urge mudar. Caramba, como as pessoas não reagem? Como não querem acordar? É quando emerge o lado mais reativo e radical do espírito aquariano. Nas ganas do Raul: “Quero tocar fogo onde o bombeiro não vem”. Chegamos ao primeiro dos períodos mais tensos deste ano. Depois de seis agitados meses transitando em Áries, seu próprio signo, o belicoso Marte ingressou em Touro na última quarta-feira, para se alinhar a Urano nos próximos dias. Já Urano, o regente de Aquário, retoma seu movimento direto na quinta-feira, com pressa de futuro. Tudo isso em conflito com as posições de Júpiter e Saturno em Aquário.
Sei não, mas o circo pode pegar fogo por aqui, já que essas configurações tensas de agora engatam numa outra do mapa astrológico do Brasil, envolvendo a oposição entre Saturno e Marte. Urgentes correções de rumo podem esbarrar em seculares estruturas rígidas e autoritárias do país, gerando impasses e fervor nos ânimos. Se esse barulho traz consciência e possibilidades de mudanças, acionando os seres mais alinhados com a racionalidade inovadora de Aquário, por outro lado, pode soa inútil num Brasil ainda sob a névoa negacionista de Netuno. Este planeta da confusão e do delírio já começa a se afastar do Sol do Brasil, mas passará a se opor a Mercúrio, regente de Virgem, signo do país. Ou seja, a verdade libertadora e tão apreciada por Aquário está longe de virar consenso. Não por falta de provas e dados, mas porque o tal gigante adormecido – “só pra variar”, diria Raul – pode preferir seguir a sono solto.
A figura mítica de Prometeu é associada a Aquário e Urano. Prometeu significa “o que vê antes”. Ele foi o titã que, desafiando os privilégios dos deuses, roubou destes o exclusivo fogo e o trouxe aos humanos. O fogo de Prometeu é o conhecimento e a ciência, que abrem um futuro de progresso e justiça. É a consciência, que exalta o humano pela razão. Porém, Prometeu pagou um alto preço pela desobediência civil. Foi acorrentado numa montanha e torturado diariamente com bicadas de águia no fígado. Esse mito simboliza a solidão dos visionários. Também o sofrimento de quem aponta injustiças mas não consegue fazer disso uma ação corretiva. Os lúcidos sofrem em dobro quando percebem que precisam silenciar diante de descalabros. Por isso Raul lamentou não ser burro.
Sem querer desanimar os despertos, informo que o nevoento trânsito de Netuno pelo Mercúrio do Brasil segue por mais uns dois anos. Ficções ganham dos fatos, mentiras duram, confusões viram rotina. No espírito alternativo aquariano, cabe aos antenados buscarem caminhos menos oficiais de fazerem o futuro chegar, apesar dos sonâmbulos. “Qualquer coisa, uma coisinha pra mudar”, encerra Raul sua canção.