A mesa está bamba? Por ora, um calço resolve. A comida salgou um pouco? Acrescente ao cozimento uma batata cortada em pedaços. A discussão está muito tensa? Respire fundo e retome a conversa em um tom mais ameno, com mais escuta. O carro está puxando a direção para um dos lados? É bom ver logo um serviço de balanceamento. Pois sim: sempre é possível balancear as coisas antes das consequências dos desequilíbrios de toda sorte que povoam nossos dias. Como o Sol brilha em Libra, o signo da balança, precisamos lembrar que a própria vida na Terra é o resultado do equilíbrio sutil entre muitas forças. No perfeito espelho da natureza, precisamos continuamente buscar a condição do equilíbrio, sob a qual brota a paz.
Ah, a paz! Repare: somente a percebemos bem quando a perdemos! A paz é um objetivo fundamental em nossa vida, sempre desejado, mas que tende a sair de nossa consciência tão logo é atingido. Estar em paz soa tão normal, tão óbvio, que a almejada situação de tranquilidade e leveza, no correr do tempo, costuma perigosamente nos soar a tédio. Aí reclamaremos que a vida está parada, que nada acontece de novo, que isso, que aquilo. E essas queixas não demoram a balançar a ordem que antes sustentava a despercebida paz, derrubando-a ou destruindo-a de vez. E pronto: no inferno da confusão e das incertezas, logo estaremos a sentir saudades dos dias de serena paz. Pediremos por ela em orações, como se a paz fosse somente uma abstrata graça divina. Mas a paz também é uma delicada construção cotidiana que nos cabe praticar o tempo todo.
A roda do zodíaco, que é a própria vibração da natureza, nos ajuda a enxergar os alicerces da paz. Libra é o signo que por primeiro concebe a paz como condição fundante de uma vida em sociedade, a dois ou a milhares. Sua balança simbólica é imagem de mediação pela paz, seja na conversa esclarecedora e conciliatória ou no restauro da ordem pela via judicial. No calendário natural, Libra sucede o terrestre Virgem, associado ao serviço pessoal, à humildade e à ordem. Virgem ensina a Libra que não se constrói nada em conjunto sem algo a oferecer ao outro e sem alguma disciplina e discernimento. Porque a paz completa só viceja na ordem, a começar pelo cuidado consigo mesmo e com o ambiente. Ou alguém imagina ter paz sem saúde? Ou equilíbrio na vida sem respeitar a natureza? Ou amar sem saber doar-se?
No entanto, o mais comum é chegarmos à etapa libriana cheios de expectativas do encontro com o outro e com o mundo, mas desatentos ao que temos a oferecer por primeiro. Se não houver paz, a culpa será sempre dos outros, claro. Assim pulamos a etapa servidora de Virgem em nosso aprendizado, saindo do orgulho individualista de Leão diretamente para a parceria de Libra. Só que egos orgulhosos podem bater cabeças, intransigentes, por séculos, sem esboçar sinal de conciliação. Não estou a dizer que a dificuldade da paz venha unicamente de nossa parte, mas que devemos ter a humildade de tentar de tudo por ela antes de cobrar a cota do outro. Convém sempre questionar se já fizemos tudo o que podemos pela paz.
Em síntese, a paz é um substantivo abstrato, tema do idealista Libra, mas produzi-la exige esforços concretos e diligentes, como cabe antes a Virgem. Paz dá trabalho. Por isso, nesse tempo conflituoso, tudo pode começar, por estranho que pareça, com faxinas literais ou metafóricas. Limpe a casa, o corpo, a mente. Areje tudo. Quem sabe a paz bata na porta com um colorido ramalhete primaveril em punho.