Talvez a rima, em português, de agosto com desgosto tenha ajudado a criar a má fama do mês que se inicia. De cachorros loucos a eventos funestos na história, uma lista ilustra essa velha crença cultural. Mas sosseguem, leões, que não há fundamento astrológico nessa imagem ruim. Como ser um mês de azar se a maior parte dele recebe a vibração do signo do generoso Sol? Porém – ai, porém –, o céu de agosto neste ano estará um tanto explosivo. São tensões e pressões que bem podem referendar os estigmas do oitavo mês. Para evitar isso, urge atentar para Marte, o planeta vermelho. Ativadíssimo em Áries, seu próprio domicílio, Marte estará em confronto com a trinca planetária que espelha a crise mundial da pandemia: Júpiter, Saturno e Plutão reunidos em Capricórnio.
Marte simboliza o impulso individual de afirmação, daí ser o regente do primeiro signo do zodíaco. É uma energia de iniciativa e coragem centrada nos desejos mais pessoais: quando eu quero, minha vontade é lei. A associação desse planeta vermelho ao mítico deus da guerra já indica seu efeito de enfrentamento. Pressa e impetuosidade lhes são características. Marte é centelha de ignição, é pé fundo no acelerador. Não combina com esperas e sinais fechados, principalmente quando se encontra turbinado em Áries, como agora. São esses traços de ousadia desmedida e arrogância que causam preocupação no atual contexto de contenção e cuidado da pandemia.
Num olhar otimista, esse mesmo quadro pode sinalizar aberturas e avanços. É da natureza de Marte romper limites e inaugurar novos caminhos. A pesada realidade de estagnação e medo pode ganhar uma lufada de conquistas. Porém – e sempre haverá poréns quando Saturno estiver na jogada, como agora, em seu próprio signo –, é bom não cantar vitórias antes do tempo. A tropa de choque planetária no prudente Capricórnio ainda parece mais afeita a expor as fragilidades de um modelo de mundo do que a liberar o tal normal. De foice em punho, o velho Saturno parece dizer ao voluntarioso Marte: te aquieta, ó valentão, que o apressado come cru.
Mas é esse imperativo da espera que exaspera Marte. Ser obrigado a aceitar o que não deseja aciona a frustração, que aciona a raiva, que aciona a reatividade e o confronto – e instaura-se um duelo cego e inconsequente. Por isso, esse agosto de ânimos exaltados pode soar a pino de granada. É um mês crucial no ciclo do novo ano astrológico iniciado em 20 de março, quando Marte também estava em Capricórnio. Ou seja, em agosto Marte também tensiona sua própria posição no mapa do ano. O melhor conselho é, como no samba de Paulinho da Viola, imitar o velho marinheiro e levar o barco devagar. Marte gira em Áries até janeiro, mas não tão tenso como em agosto e setembro.
Como a arte sempre salva ou orienta os humanos, evoco o virginiano Caio Fernando Abreu (que odiava agostos), na crônica Sugestões para Atravessar Agosto, de 1995: “Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. (...) Ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um”. Pois é, saudoso Caio, o jeito é alimentar de distrações e sonhos a nossa cachorrada interior, para ela não enlouquecer nesse agosto irado.