Brasil, meu Brasil brasileiro, senta aqui, meu nego, que eu quero um lero contigo. Já te falei isso, mas não levaste a sério, com esse jeitinho “tô nem aí’. Agora vou de papo reto. Essa Lua conjunta a Júpiter, no signo de Gêmeos, em teu mapa natal, te faz moleque inzoneiro, cheio de manha e malícia, mas também pode te lascar federal. Sim, menino sem juízo, nossa delícia também pode gerar nossa dor. Ainda mais que teu signo solar é Virgem, que rege a saúde e o trabalho. Sacou os temas? Pois agora o bicho tá pegando, Brasil. Melhor baixar a bola e obedecer ao que a realidade impõe como mais importante – a vida!
No teu mapa, a Lua geminiana, alegre e folgazã, tensiona o Sol. Então, tome tenência de que o delicioso lado leve e cheio de convicções não ajuda em nada na ordem e na humildade que devem pautar o trilho virginiano. Sei que adoras inventar um jeito novo para driblar as normas. Aliás, driblar é contigo mesmo! Quem viu a genialidade de um Garrincha em campo, enlouquecendo os gringos com suas erráticas pernas tortas? Yes, temos esperteza de sobra, baby. Yes, temos samba no pé e ginga pra matar no peito o que vier. Ai, ai, Brasil: a vida real sempre vai te aprontar um novo “sete a um” humilhante. E derrubar teus mitos rasos. Cuida que, nessa hora, Deus não será brasileiro. E teu corpo não estará fechado por santos e orixás.
Não, não tô te urubuzando. Também sou brasileiro, não esqueças. Sou um Pereira, um Silva, sou mestiço Brasil, e amo ter nascido desse caldeirão. Mas agora devo encarnar o papel de coro grego nesse drama que renegas. Serei mais uma voz chata a avisar do teu iminente erro trágico. Cai na real, Brasil. Não é hora de pensamento mágico. Não é hora de “comigo não” nem de saídas milagrosas. Esquece tua faceta Pedro Malasartes, pois nessa briga com a morte não tem trapaça. No céu, a barra anda pesadíssima: Saturno se juntou a Plutão, já sabes. São simbólicos senhores das sombras e dos limites maiores. São cobradores implacáveis. Se eu fosse tu, não brincava com esses caras. Ante a lei dos limites cósmicos, não tem barganha. Nunca teve.
Como estou me fazendo de coro grego, vou te contar mais. Nas histórias mitológicas, que ilustram as experiências humanas mais significativas, havia um pecado imperdoável, que os antigos gregos chamavam de hybris. Era a desmedida, a ultrapassagem dos limites naturais. Era quando os mortais desafiavam os deuses, símbolos do que é eterno e maior. Era a arrogância de achar que podia desobedecer impunemente aos potentados superiores. Muitas tragédias famosas foram frutos da hybris humana. Mesmo os sofrimentos de Ulisses, na Odisseia, começaram quando o herói cantou vantagem do próprio individualismo. Não cai nessa de “se achar o tal”, Brasil. Reflete no bom senso, antes que seja tarde.
Agora, Gaia, ou a força da natureza, impõe furiosas correções de rumo. E as evidências mostram que não coube aos ungidos brasileiros a graça suprema de salvarem o planeta pela negação dos fatos. Chega de boçalidade estúpida, Brasil! Esse papo reto agora é pra te alertar do desafio contigo mesmo. Tens que domar o teu lado soberbo e hiperconfiante e seguir as regras de contenção e cuidado. Teu signo é Virgem, caramba! Custa ser realista e obedecer às recomendações de prudência? Debochar de tudo e aplaudir loucos pode até ser um direito individual, mas não estamos em situação de escolhas pessoais. O coletivo se impôs. Um mundo acabou. Aceita, Brasil!
Leia também
Há sete meses vivendo em meio à natureza, Doris Peteffi Guerra conta porque largou a vida na cidade
Jack Band propõe live solidária ao projeto Mão Amiga, neste sábado
Entenda por que a pandemia afeta nossos sonhos e como isso pode ser positivo
Pediatra de Bento Gonçalves cria e-book para orientar os pais sobre o coronavírus