O que restou da guerra mundial comercial deflagrada por Donald Trump é um imposto de importação (tarifa) de 10% para todos os produtos da China que forem vendidos aos Estados Unidos. Por enquanto: o governo de Xi Jinping reagiu impondo tarifas de 15% sobre carvão e gás natural liquefeito (GNL) e 10% sobre petróleo bruto, máquinas agrícolas, veículos de grande cilindrada e caminhonetes, que entrariam em vigor no dia 10.
Pequim ainda restringiu a exportação de produtos estratégicos para os EUA, como tungstênio e de outros minerais usados na indústria eletrônica, de aviação e defesa. E pouco antes do anúncio oficial dessas medidas, Trump informou que fará um contato por telefone com o presidente chinês Xi Jinping. Parece ser um novo sintoma do que o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral diagnosticou como uso da "imprevisibilidade como mecanismo de negociação".
É a famosa "negociação com a faca no pescoço", que dá pouca margem de manobra aos países ameaçados, como ocorreu com México e Canadá, que aceitaram pedidos de Trump para evitar a aplicação das tarifas por ao menos um mês. Para Barral, é difícil que o presidente americano perca a credibilidade depois dos recuos exatamente porque o comportamento errático sugere que ele pode fazer qualquer coisa, inclusive nada. Mas quem vai pagar para ver?
Mas até nos EUA se começa a debater se Trump, afinal, seria um "tigre de papel" – expressão usada pela agência de notícias especializada em economia Bloomberg. Para analistas, os recuos "alimentam a crescente reputação do presidente dos EUA de parar antes de cumprir sua retórica agressiva quando se trata de comércio, usando as tarifas como tática de negociação".
Um dos problemas de as ameaças se tornarem "a última do Trump" é que, mesmo que as tarifas sejam suspensas ou retiradas, provocam efeitos. Na segunda-feira (3), derrubaram as bolsas americanas, a tradicional e a de tecnologia (Nasdaq) – inclusive as ações da Tesla, de seu "first buddy" Elon Musk – e as moedas dos países alvo, como dólar canadense, peso mexicano, euro.
Outro risco envolve efeitos negativos sobre a própria economia americana. Conforme o jornal Financial Times, a intimidação de Trump podem incentivar uma "aliança antiamericana". Ao minar a aliança ocidental buscada para reagir ao crescente poder econômico e geopolítico da China, avalia a publicação que é referência para o mercado, o presidente americano poderia "plantar as sementes de um grupo alternativo, formado pelos muitos países que se sentem ameaçados pelos EUA".