Só para elencar a ampla e as diversificadas formações acadêmicas do florense Júlio César Kunz seria necessário abrir uma nova página, mas apontaremos alguns exemplos notáveis. Hoje, o sommelier e psicanalista, formado pelo Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre, concilia duas áreas que, embora possam parecer distintas, estão profundamente interligadas em sua perspectiva. O filho de Emílio Kunz Neto e Margot Facchin graduou-se em 2007 pela UFRGS, em Engenharia de Alimentos e, em 2010, tornou-se Mestre em Gestão e Marketing do Vinho pela Université de Paris e, na Itália, pós-graduou-se em Empreendedorismo e Negócios Internacionais. Até mesmo uma formação na École du Vin, de Bordeaux, na França, faz parte de seu estrelado currículo.
Sobre o papel da Psicanálise, Kunz é enfático — Penso que em um mundo de grandes exigências, a psicanálise permanece como um lugar no qual a singularidade do sujeito pode encontrar um tempo para se defrontar com seus vazios e com seus desejos mais profundos. As sessões de análise são um espaço onde a lentidão permite o aprofundamento para tolerar o que não sabemos sobre o mundo e sobre nós mesmos, uma vida em que se possa sonhar e vivenciar com todo o colorido emocional. Por isso, num momento de tantas terapias rápidas e de pílulas mágicas, a psicanálise faz as perguntas necessárias para que possamos sentir e pensar.
Caxiense desde que retornou da Itália, em 2018, acumula mais de 20 anos entre idas e vindas. Em sua trajetória, foi reconhecido com o título de Profissional Destaque do Ano pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) em 2012, recebeu o Prêmio Tuti de escrita psicanalítica teórica em 2021, e o Prêmio Doro de escrita psicanalítica clínico-teórica em 2022.
Com o desejo de oferecer um olhar mais aprofundado sobre os vinhos, Júlio fundou a Wine Expert Academy. A escola vai além das formações tradicionais, abordando aspectos científicos, como a geologia para compreensão do terroir e a análise sensorial para degustação, além de explorar aspectos culturais e históricos do vinho. Ele ministra cursos sobre as regiões francesas e italianas, como o voltado ao “Francês do Vinho”, que foca nos termos utilizados nesse universo. Sua busca incessante por atualizações o leva a constantes viagens pelo mundo. Em fevereiro, viajará para Paris, Champagne e Catalunha, região principal da Denominação de Origem Cava, em busca de novidades, além de organizar estudos in loco para seus alunos.
Como vice-presidente nacional da ABS, Júlio desempenha um papel essencial na profissionalização da sommellerie no Brasil. A entidade, fundada em 1983, foi pioneira no projeto-lei que regulamentou a profissão e é a legítima representante no Brasil da Association de la Sommellerie Internationale (ASI), responsável pelo concurso de Melhor Sommelier do Mundo. Entre suas contribuições, destaca-se a uniformização dos conteúdos didáticos das regionais e a implementação do ASI Diploma no Brasil, uma das certificações mais prestigiadas da área.
Além disso, Kunz atua como professor e diretor de vinhos na ABS-RS. Ele também organiza masterclasses regulares e cursos pontuais, sempre com foco no aprofundamento técnico e no conteúdo de sommeliers de excelência.
Sua formação influencia diretamente a visão sobre o setor. Ele pensa sobre o conceito de "terroir" como uma síntese dos fatores naturais e humanos que moldam as características da bebida. Essa abordagem global norteia sua atuação como consultor e mentor, unindo a ciência e a arte que permeiam o universo do vinho. Para ele, a sustentabilidade e as práticas ecológicas são questões vitais para o futuro do setor, demandando uma postura ativa frente à emergência climática.
Júlio sabe que o estado desempenha um papel central no fortalecimento da cultura do vinho no país. A imigração italiana na Serra Gaúcha imprimiu o hábito do consumo da bebida, consolidando a região como referência. Ele também destaca a importância do enoturismo, com sommeliers cada vez mais presentes nos receptivos das vinícolas gaúchas.
Sobre sua primeira memória com o universo dos vinhos, Júlio relembra os almoços de domingo na casa de seus avós Eloy e Carmen Kunz, com o peixe preparado pelo avô que reservava também o vinho que produzia, o Schatz Riesling Renano. Essa lembrança, sempre celebrada, foi uma das sementes de sua paixão.
Júlio também se dedica às artes, apreciando ou criando. Música, cinema, teatro, exposições e literatura estão em sua rotina. Ele também escreve, desenha e toca violão e guitarra, porque sabe que a arte é essencial. Publicou o livro de poemas Amor Fati, em 2017, que reflete sua visão sobre as pequenas mudanças cotidianas e o contínuo de permanências e transformações que compõem a existência.
Júlio encara o mundo com a máxima "Omnia mea mecum porto" (Bias de Priene), que traduz sua crença de que só possuímos verdadeiramente o que carregamos conosco: nossa mente, emoções e aprendizado. Ele sintetiza a união entre a psicanálise e o vinho como o trabalho de ajudar as pessoas a pensar e a colocar em palavras o que sentem, seja na taça ou na vida emocional.
Decantador
- Um vinho para harmonizar com a vida: o próximo.
- Gostaria de ter sabido antes que… não é preciso e nem possível saber tudo, o interessante é viver e seguir aprendendo não só com as informações, mas com as emoções.
- Um livro para acompanhar um bom vinho: poesia - basta um poema, um verso ou, às vezes, uma palavra.
- Tinto, branco ou rosé: o s três, cada um no seu momento.
- Com que mensagem encara o mundo: Tudo que tenho, trago comigo.