
Como ocorre com medicamentos e com alguns produtos alimentícios que são obrigados a expor advertências em suas embalagens, também os telefones celulares deveriam ostentar em suas telas alertas do tipo: “Na dúvida, não clique!”. Talvez o lembrete servisse para reduzir o número de usuários distraídos ou ingênuos que abrem as portas de suas vidas digitais (e de suas contas bancárias) para golpistas que passam o tempo todo lançando suas iscas venenosas.
Mas também não sei se adiantaria muito. Avisos como esse costumam ser tão inúteis quanto os corriqueiros “beba com moderação” ou “jogue com responsabilidade”. Quase ninguém liga para eles. Ocorre o mesmo com as numerosas placas de advertência plantadas nas margens das estradas brasileiras: “Dirija com cuidado”, “Obedeça a sinalização”, “Na dúvida, não ultrapasse”. Quem liga para elas?
São bem-intencionadas, mas pouco eficientes. As pessoas dificilmente mudam seus hábitos ou contêm seus impulsos por causa de alertas escritos – a não ser no caso de avisos realmente contundentes. Quando cobri a Copa da Argentina, em 1978, em plena ditadura militar naquele país, deparei-me uma placa realmente convincente numa rua de Rosário: “No pare! Los guardias harán fuego” (na tradução: Não pare! Os guardas vão atirar). Caí fora daquele lugar.
Por aqui, nem as advertências mais fortes parecem funcionar. As carteiras de cigarros, por exemplo, contêm avisos aterrorizantes sobre as doenças do fumo. São necessários, mas nunca ouvi falar de alguém que tenha deixado de fumar por causa delas. Até lembretes simples têm pouca eficácia entre nós: “Não bata a porta”, “Não coloque lixo neste local”, “Respeite o silêncio”. Às vezes tais mensagens parecem até provocar o efeito inverso.
Sei que pouco adianta, mas repito: “Não clique!”
Por isso, prefiro os bem-humorados. Também são desconsiderados, mas, pelo menos, provocam risos: “Em caso de incêndio, saia do local antes de publicar na internet” e “Não perturbe. Já sou suficientemente perturbado”. Mas cair na armadilha dos golpistas não tem graça nenhuma. E eles são rápidos: agora já estão disparando ardilosas ofertas de ressarcimento para aposentados extorquidos por associações fraudulentas.
Sei que pouco adianta, mas repito: “Não clique!”, “Não clique!”, “Não clique!”