
Há trajetórias que são como receitas de família: nascem em silêncio, amadurecem com o tempo e, quando prontas, aquecem quem tem o privilégio de experimentá-las. Foi assim que se iniciou a história de Guilherme Pastori, chef e empreendedor caxiense que transformou a herança culinária saboreada na infância em um projeto de vida. Nesta conversa, ele discorre sobre o que vive e o que serve: comida feita com verdade.
Nascido sob a égide do signo de Virgem, filho de Sirlei Kellermann Pastori e César Antônio Pastori, Guilherme, 32 anos, cresceu entre aromas familiares e refeições intuitivas feitas com carinho. — Minha mãe era muito criativa na cozinha com o que havia em casa. Foi ali, observando, que comecei a entender o valor da inventividade e do afeto no preparo de um prato.
Ainda adolescente, trabalhou como garçom no restaurante da família, mas foi na cozinha que se encontrou de forma autêntica. A partir dos 16 anos, nunca mais largou os utensílios e os temperos. O ponto de virada surgiu em 2019, quando embarcou para o interior da França e estagiou no restaurante L'Arnsbourg, em Baerenthal, premiado com uma estrela Michelin. — Viver sozinho na França fez com que ouvisse meu coração. Entendi quem eu era e o que queria construir — diz ele, com olhos que ainda brilham ao relembrar a experiência.
Hoje, Guilherme é pai de Bernardo Lucca, de 12 anos, e Vicente, de 6, e compartilha a vida com a também chef Denise Dorneles da Silva, sua parceira na vida e nos negócios. Juntos, comandam o restaurante Tempo Gastronomia e Vinho, um espaço que traduz a maturidade criativa do casal, com menu autoral, sazonal e repleto de personalidade.
Além do Tempo, Guilherme está à frente do Il Gallo Trattoria, restaurante que completará três anos de atividade no dia 8 de maio. Neste ambiente, ele imprime nova roupagem a receitas clássicas italianas, misturando tradição e inovação. — No começo, a proposta era trabalhar apenas com pratos conhecidos, mas sentimos a necessidade de colocar nossa assinatura. A cozinha precisa ter alma — reforça.
A paixão pela gastronomia vem de longe — da lendária “perdizada” do avô Germano Giacomo Pastori (in memoriam), da polenta da avó Enedi de Almeida Pacheco, do cheiro de bolo quente nos cafés da tarde com a mãe, Sirlei. Essas memórias afetivas são ingredientes presentes na construção da sua identidade como chef de cozinha. — Amo brincar com insumos locais e com pratos típicos, oferecendo uma nova cara a cada um deles. Criar é o que me move — ratifica.
Mas a vida fora da cozinha também tem seu tempero: Guilherme gosta de cortar grama, cuidar da horta, jogar bola com os filhos e aproveitar momentos de sossego ao lado da mulher, Denise. — Acredito que a simplicidade é um luxo. Estar com quem a gente ama é o verdadeiro sucesso — afirma.
Empreender na gastronomia, ele conta, é desafiador, mas gratificante. — Cada dia é uma novidade, um imprevisto. Porém, nada se compara à alegria de um domingo com a casa cheia, clientes satisfeitos e amigos reconhecendo nosso fazer.

Se Guilherme tivesse que escolher um prato para representar sua trajetória, seria o nhoque de batata — receita aperfeiçoada durante os meses da pandemia. — Ficamos testando diariamente. Aquilo foi um recomeço, um período de reflexão e de muita persistência.
Com planos de seguir consolidando os processos nos restaurantes, ele vislumbra, no futuro, abrir espaço para eventos. E aos que sonham com a gastronomia, deixa um conselho honesto: dedicação e humildade. Aproveitem cada segundo ao lado de profissionais mais experientes. A cozinha ensina muito mais do que técnicas — ela forma caráter.
Teimoso assumido, Guilherme vê no trabalho diário uma forma de impactar vidas. — O mundo precisa se julgar menos e amar mais. Cozinhar é, no fim das contas, um ato de amor — sentencia.
A receita de Guilherme
- Gostaria de ter sabido antes… que tudo acontece no seu devido tempo.
- Frase máxima? “A excelência não é um ato, mas sim um hábito” (Aristóteles)
- Reflexão de cabeceira? Sem amor não existe a caridade.
- Do que precisa para ser feliz? Estar na companhia de pessoas que buscam evoluir, são positivas e transmitem amor e fé.
- Livro de cabeceira: Cartas a Um Jovem Chef, de Laurent Suaudeau.
- Não pode faltar na minha rotina… começar o dia com um prazeroso café da manhã e ao lado de quem eu amo.