Nunca, em hipótese alguma, discuta seus problemas de relacionamento amoroso em público. Não existe nada mais incômodo, sobretudo para quem testemunha. Eu, pelo menos, fico envergonhado, sem saber onde me esconder. Esta é uma área na qual a privacidade precisa ser mantida, sob risco de acentuar os dilemas dos casais em eventual crise. Sinceramente, qual o benefício? Tudo bem: há um momento na vida em que é difícil administrar os dramas de ordem passional. A rotina costuma matar até as grandes paixões. Mas, convenhamos, expor-se sem pudor é uma espécie de suicídio emocional, invalidando a possibilidade de continuar gerindo brigas futuras. Aliás, quando se está neste ponto é provável haver pouca coisa a fazer. Se o diálogo civilizado e respeitoso desaparece é porque se chegou a tal situação em que esse resgate é praticamente inviável. Daí para a agressão física pode ser um passo. O céu é o limite.
Já presenciei hostilidades públicas de pessoas que passavam a imagem de estarem absolutamente felizes. Era só aparência e o surgimento de uma singela discordância abria as comportas para revelar ressentimentos guardados. De nada adianta abusar de palavras doces antecedendo as frases se formos incapazes de cultivar um mínimo de empatia pelas ideias discrepantes proferidas na presença de outros. Sejamos capazes de nos conter, elaborar o que nos incomoda para depois, no âmbito doméstico, dividir o aborrecimento provocado. Resolveremos assim os sentimentos desgastados pelo tempo. Aqui uma observação importante deve ser feita. É parte do senso comum colocar a culpa na convivência excessiva como a responsável pela diminuição dos laços de afeto. Nem sempre. Só para os que seguem no piloto automático, acreditando ser desnecessário investir no que já está conquistado. É possível manter a admiração e até vê-la crescer se nos treinarmos a olhar atentamente para o ser amado. E isso costuma ser deixado de lado com espantosa frequência.
Esta é uma tarefa que exige cuidado redobrado, poupando-nos da cegueira diante do óbvio. Vamos nos convencer de uma vez: amor bom se evidencia nos atos, manifestando-se em atitudes bem prosaicas. Neste assunto, fica a sugestão: reserve para um espaço privado a busca da solução para seus conflitos. A sensação de desconforto ao assistir um confronto é acachapante.
A delicadeza é um componente essencial para a sobrevivência, a longo prazo, de um projeto a dois. Comumente, envolvidos em contratempos de ordem profissional ou familiar, permitimo-nos descarregar nossa raiva nos mais próximos. Evite isso. Pense antes, pare, respire fundo. A elegância anda de mãos dadas com a discrição. Afinal, custa pouco refrear determinados impulsos. Desista de ser o dono da razão. E, se sentir vontade de exteriorizar algo com destempero na voz, feche a porta de casa e evite se expor. Com plateia é constrangedor, você não acha?