Minha avó Genoveva contava que, em sua juventude, quando uma mulher se separava, o destino que lhe cabia era o convento. Ou a irrecusável responsabilidade de cuidar dos pais até a morte. Se acontecesse dela tentar refazer os laços afetivos, caso raro na liturgia amorosa daquele tempo, era olhada com desconfiança por todos e excluída do convívio com outros casais. Equivalia, mais ou menos, a contrair alguma doença grave. Se tal “tragédia” se desse com um homem, a situação seria abrandada concedendo-lhe o direito de pôr em prática a satisfação de seus desejos. As moças casadoiras viam nele uma espécie de prêmio consolatório quando suas chances começavam a escassear. A moral era estreita e o olhar do vigário e das senhoras respeitáveis, eternamente vigilante.
Quase um século depois e vemos a guinada que se deu quando o assunto é casamento, namoro, sexo e parceiros eventuais. Alguns amigos que recentemente terminaram relacionamentos não demoraram mais do que um final de semana para sair com novos candidatos. Foi só se inscrever num site e dezenas de possibilidades foram apresentadas. Não sei ainda se estes encontros terão vida curta ou longa, mas todos parecem estar se divertindo bastante. Detalhe: romperam uma vida em conjunto de oito, dez anos. Chorar? Nem pensar! Rei morto, rei posto. Hoje, múltiplas ofertas estão ao alcance de todos: basta apresentar o produto disponível nas redes sociais. Quando lhes disse que achava isso um pouco precipitado, recebi de volta um olhar de reprovação, com a seguinte legenda: “Pensa assim por ser de outra geração.” Ou seja, coisa de gente mais velha.
Não me perguntem se isso é certo ou errado. Sinceramente, não sei. Deve ter sido terrível viver numa sociedade que dava às pessoas uma única chance. Porém, parece-me leviano demais emendar uma história na outra. Acredito na ação terapêutica que advém de um período para se estar consigo mesmo antes de ir em busca de um substituto. Claro que nem todos saem por aí desesperadamente, atirando para todos os lados. Mas é um comportamento recorrente. É cedo para fazer um diagnóstico definitivo. Melhor observar e resistir à tentação do julgamento precipitado.
Poucos se sentem habilitados a viver sozinhos. Os pares são mais sedutores. Sem falar das simpáticas armadilhas para a perpetuação da espécie. Passamos da repressão total à quase obrigatoriedade de flertar incessantemente. Lá a frustração e aqui o inevitável cansaço. Um ponto de equilíbrio parece estar fora de cogitação neste momento. Que saibamos aproveitar da melhor maneira a liberdade que foi jogada aos nossos pés. O quanto ficamos com alguém, afinal, não determina sua qualidade. Tentarei abrandar meu pensamento sobre a questionável velocidade que essas procuras ensejam. Vale mais ser feliz. Se um simples clic parece resolver a questão, aproveitemos. Com certa parcimônia, no entanto.