Conta-se que César, ao voltar vitorioso de suas batalhas e vendo a multidão que o aclamava, pedia a um escravo que sussurrasse em seu ouvido: "És velho, és calvo, és barrigudo." Era um lembrete para que ele não se deixasse inflar pelo orgulho do que é passageiro. Quando estamos no auge, é fácil angariar simpatia, concordância. Mas sempre há um rodízio de cadeiras. Alguém ocupará o lugar que hoje é nosso. Os antigos romanos, tão guerreiros e aptos a conquistar novos territórios, sabiam que sem a prática da humildade estariam fadados a entregar seu trono antes do tempo desejado. Nem sempre o poder transforma as pessoas em seres melhores. Mas é alentador saber que um homem que já comandou o mundo tinha esse tipo de pensamento. Séculos pesam sobre nós e essa verdade permanece imutável. Creio que a grandeza pode ser medida pela nossa capacidade em relativizar a importância do cetro e da coroa que algumas vezes temos sobre a nossa cabeça. Tudo é efêmero, mas essa compreensão quase óbvia passa ao largo da vida de tantos. Meu ego se compraz com elogios, mas sinto que uma crítica é mais proveitosa para o aprimoramento. Colho palavras lisonjeiras com gratidão, sabendo que elas podem fomentar um orgulho enganoso. Esse equilíbrio entre nossas habilidades e um eventual talento que nos distingue dos demais é essencial para não atropelar nossa humanidade.
Hoje o conhecimento é bem mais fragmentado do que o das gerações anteriores. Uma citação extraída do Google nos autoriza a opinar sobre qualquer assunto. Poucos mantém a disponibilidade para pesquisar mais profundamente, permanecendo na platitude. A capacidade de aprender resulta da concentração e da disciplina, e as temos exercitado precariamente. Sempre recorro aos clássicos para não perder de vista o tamanho do que desconheço. Sou o que ignoro. O que meu cérebro armazena são apenas partículas de algo tão vasto que sequer posso imaginar. Impérios nasceram e ruíram, mesmo parecendo eternos aos que os chefiavam. Hoje são recordados somente por quem se interessa em estudá-los. Se estivesse em sala de aula, proporia aos meus alunos exercícios em que eles fossem instigados a lembrar de que são mortais. O conceito de novidade não estaria no topo das matérias que desejaria lecionar. Focaria os olhos nos que nos antecederam, sobretudo em seus erros.
A prática das virtudes exige a renovação de um propósito de vida mais elevado. A filosofia é um guia sublime para alcançá-lo. E ela é tão generosa que nos permite colher seus frutos como se fossem nossos. Essa partilha comunga com o intuito maior da existência: a de nos tornarmos seres que colaboram uns com os outros. Para que isso ocorra é melhor nos encolhermos do que projetar os braços rumo ao infinito. Estar próximo do chão é participar de outras formas de vida. Para descobrir, no final dos dias, que toda posse é apenas um empréstimo.