Em Plum Village, no interior da França, existe uma comunidade budista criada pelo mestre tibetano Thich Nhat Hanh. Expulso de sua terra por divergências ideológicas nos anos sessenta, desde então exorta a todos sobre a necessidade de nos tornarmos plenamente conscientes da realidade que nos cerca. Nossa mente devaneia sem parar e o tempo no qual ela menos permanece é no aqui e agora. Passado mais de meio século ainda é possível, aos que têm tal graça, fazer longas e silenciosas caminhadas ao seu lado pelos bosques dessa bela propriedade. Não há uma doutrina específica a ser seguida, mas tão somente o convite para se inserir nesta revolucionária proposta de vida. Que, a um primeiro olhar, parece simples e fácil. Tente. É provável que você desista na primeira hora. O turbilhão de pensamentos que nos assalta constantemente não permite conhecer o aquietamento, a paz. A satisfação de um desejo gera saciedade provisória; logo virão outros, num redemoinho sem fim.
O que esse iluminado propõe é deixar-se carregar pelo fluxo dos acontecimentos, sem a eles se opor. Passam ao largo das discussões que possam gerar conflitos verbais. Excluem qualquer polêmica, pois conviver alimentando controvérsias é a maneira menos inteligente de agir. Ao ver as imagens de grupos de homens e mulheres transbordando serenidade, não resta dúvida de que esse é um dos melhores roteiros para alcançar a felicidade. Pequenos rituais sinalizam a importância da oração, da prece, que nada mais é do que uma forma de gratidão. E é isso que transparece em seus largos sorrisos. Não há um discurso de convencimento ou críticas pelo modo entorpecido a que grande parte do mundo escolheu aderir. É provável que pouco se interessem pelo que esteja acontecendo no cenário político e econômico. Eles precisam do mínimo para a sua subsistência. Móveis e eletrodomésticos são trocados raramente. Como também é pouco usual ver alguém acessando um celular. Alienados? Pelo contrário, estão em conexão profunda com o que define a nossa verdadeira humanidade.
Ignoram o medo de perder suas posses, por isso são livres. Sabem que o mais precioso não pode ser comercializado. Para lembrar disso, a cada quinze minutos os sinos do vilarejo tocam. E todos interrompem as tarefas a que estão se dedicando naquele instante: cozinhando, arando a terra, tocando violino, lavando a louça. É um chamamento para que se reconectem novamente. Para que recordem do milagre que é estar vivo. E que passado e futuro são as duas grandes ilusões que nos roubam a percepção do real. Esse exercício se renova todos os dias, do amanhecer ao cair da noite. Transformam esta parte do planeta que os acolhe num grande altar. E reverenciam a natureza e os seus irmãos de jornada espriritual.
Não ser contra nem a favor. Apenas seguir o fluxo das coisas. É a esta eternidade que deveríamos aspirar.