É bom ir começando desde já a engavetar os nossos preconceitos, pois os novos modelos de família são uma realidade que chegou para ficar. Não é mais uma questão de ser contra ou a favor, mas de constatar o que se apresenta diante de nós como um dado concreto. O modelo tradicional, formado por pai, mãe e filhos, é apenas mais uma possibilidade entre tantas que podemos ver não só como uma curiosidade em matérias de jornal ou revista.
É bem provável que seu vizinho ou parente já esteja vivenciando algo desse gênero. Casais formados por transexuais, por duas mulheres e um homem, dois homens e uma mulher, quatro pessoas vivendo amorosamente sob o mesmo teto, etc, etc. Os exemplos não caberiam neste texto. O que a história consagrou como a fórmula ideal de relacionamento tenderá a permanecer no topo por muito tempo ainda. Mudanças desse calibre costumam ocorrer lentamente, até porque contam com a oposição visceral da maioria das religiões que aninham o conservadorismo. Caberá a cada um, no entanto, o papel de observar sem grandes julgamentos o que, acima de tudo, pertence não somente à ordem dos costumes, mas também, e principalmente, à da biologia. Tudo cabe no humano.
Lembremos que as neuroses familiares inspiraram os maiores romancistas e pensadores. Sem elas não teria existido Madame Bovary e nem Ana Karenina, para ficar apenas em duas personagens clássicas. Muito menos as peças de Nelson Rodrigues. E psiquiatras e psicanalistas do porte de José Ângelo Gaiarsa e Regina Navarro Lins teriam que se debruçar sobre outros assuntos menos candentes em seus ensaios. Faça-se aqui menção ao nome do francês André Gide, que está entre os grandes da França. Em seu livro Frutos da terra, lançou uma das frases mais duras e que até hoje ressoa: "Famílias, eu vos odeio!". Passado mais de um século, o filósofo Luc Ferry dá como título a um de seus mais belos livros: "Famílias, eu vos amo!". Pois, diz ele, num mundo volátil como o nosso, é ainda nesse âmbito amoroso e de conflitos que se pode encontrar aquela que é praticamente a última base para a nossa saúde emocional. Como se pode observar, somos todos vítimas e beneficiários do que ocorre no âmbito doméstico. Para o bem e para o mal, é ali que nossa identidade é forjada.
Agora, pense comigo: não é muito melhor cada um ter o direito (de preferência garantido por lei, salvaguardando patrimônio e quetais) de se expressar segundo sua natureza, do que ser obrigado a viver na clandestinidade uma das mais belas experiências a que estamos destinados? Comemoro essas práticas libertárias com entusiasmo. Não sonho com o retrocesso moral. Penso em Alfred Kinsey e seu famoso relatório. Na década de sessenta, ele teve sua vida destruída pelo simples fato de ter pesquisado o quase infinito espectro da nossa sexualidade e chegado a agora óbvia conclusão: na cama, o certo é o que nos faz feliz e dá prazer. Tudo o mais é inveja da felicidade alheia.
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