Todos glorificam a vitória. Poucos lembram de admirar o esforço que faz com que os persistentes alcancem seus objetivos. Aqui não me refiro especificamente a algo ligado à competição, ao esporte. Antes, penso em toda a mobilização mental que é exigida para sair do fundo do poço e voltar a respirar novamente com serenidade, depois de alguma crise. Qualquer tipo de dependência, seja ela de ordem física ou psíquica, reduz a vontade a quase nada. O que se quer é apenas um pouco mais daquilo que nos traz alívio momentâneo. Medicamentos, sexo, jogos, drogas, paixão. Tanto faz. A verdade é que ficamos presos nestas armadilhas. Não conseguimos mais dizer não a respeito do que, enganosamente, nos parece essencial para continuar vivendo. E é nesse momento que a maioria se vê isolada, perdendo o apoio de amigos e da família. Num mercado que idolatra os seres bem-sucedidos, esquecemos de estimular o comprometimento dos que seguem adiante, mesmo sentindo o esgarçamento da existência. É como se os músculos estivessem se rompendo e, mesmo assim, fosse imperativo seguir.
Há três anos, quando para mim a palavra depressão passou da teoria para algo vivencial e tudo o que parecia prazeroso perdeu o sentido, percebi a grandeza e o significado da superação. Algo me dizia que esse “demônio do meio-dia” não seria meu companheiro por muito tempo. Sou um grande entusiasta da vida, sorvendo com prazer o que se apresenta a minha frente. Mas eis que, sem nenhum sinal prévio, instaurou-se a noite. No entanto, nunca deixei de ficar atento, procurando por alguma fissura que me permitisse fugir desse inferno que tudo nos rouba. E assim o fiz, numa tarde nublada de sábado, de amena temperatura. Sem avisar ninguém, apenas abri a porta e saí, como que obedecendo a um comando de origem desconhecida. Durante quase duas horas caminhei, sentindo novamente esse prazer que nasce das pequenas coisas, dos movimentos sutis. Sentindo presente a beleza do esforço e de ser, saudavelmente, o centro do meu mundo. Hoje, quando alguma tristeza se instala, procuro deixar que ela atravesse naquele momento a alma, sem intenção alguma de lhe fornecer residência. É um estado que cobra atenção permanente, mas que nos recompensa com a capacidade de continuar usufruindo do banal e do extraordinário, que são, afinal, a mesma coisa.
Não acredito em pensamento mágico, pois constato diariamente o valor do empenho. Pode-se estar sofrendo muito, mas sempre há uma possibilidade de romper com o que flerta com a morte. Tudo é breve e nem sempre somos convidados para uma festa. Talvez seja essa constatação que torne a realidade tão fascinante. Há que se buscar o que existe de melhor em cada circunstância. Tudo o que precisamos está dentro de nós. Podemos ser conduzidos a abismos ou a píncaros. Este trabalho de auto-observação não termina nunca. Mesmo que sobrevenha o cansaço, é imperativo persistir.
Gosto da ideia de que um deus habita em cada um. Mesmo que ele seja da estatura do ser humano.