Dois grandes amigos gastam precioso tempo postando nas redes sociais opiniões inflamadas sobre os políticos que admiram e que odeiam. Suas palavras não vêm mescladas a nenhum exercício de bom senso. Amam e detestam em igual intensidade, cegamente. Ignoram que defeitos e virtudes são como a flor de lótus que nasce em meio ao lodo: beleza e fealdade se confundem. Isso é o humano em essência. Mas não, querem a pureza e o heroísmo que sempre foi rarefeito, quase inexistente. Recuso-me a discutir esse tema com os dois. Gosto deles demais para deixar morrer o que alimenta nosso relacionamento. Até porque o alvo de suas defesas ou ataques não mobiliza mais em mim o respeito de outrora. Não ergo bandeiras, não troco a tolerância por causa alguma. Mas eles insistem e eu, contendo a vontade de responder, faço do silêncio um amparo contundente. Falo de arte, de ciência e filosofia, assuntos que me parecem bem mais apaixonantes. E assim seguimos lado a lado, num bem-querer que não se deixa contaminar por essas polarizações tão doentias que andam ocupando até as conversas mais ligeiras.
Opinião
Gilmar Marcílio: intolerância
Questionar sempre, praticando o método socrático da dúvida
Gilmar Marcílio
Enviar email