Existem tabus que quase todas as sociedades consideram intransponíveis. O incesto é provavelmente o maior deles. Pareando, há de ser o suicídio, com a ressalva de que, em algumas épocas ele foi considerado digno. Lembremos da honrosa e reverenciada morte de Sócrates, bebendo cicuta. Ou de Sêneca, obrigado a cortar os pulsos depois de ter caído em desgraça, mas mesmo assim louvando seu final. E do escritor japonês Yukio Mishima, que praticou o haraquiri para sair gloriosamente da existência. Observemos, como um contraponto, que para os preceitos do cristianismo, tirar a vida constitui-se em um crime, merecedor da condenação eterna. São considerações necessárias para avaliar um dos grandes dramas com o qual o ser humano pode se defrontar.
É no limite do sofrimento e na impossibilidade de vislumbrar uma saída que esse ato radical se apresenta como uma solução. Para os parentes e amigos, resta a inconformidade e quase sempre o não entendimento das razões que levam à desistência. Para todos, esse "fracasso" causa imensa tristeza, ainda mais ao constatar que está aumentando o número de casos em todo o mundo. Com uma agravante: os jovens lideram as estatísticas.
Como muitas dessas mortes são silenciadas, muitas vezes não se discute as causas que estão levando tão precocemente alguém a abdicar de tudo. Algumas evidências se impõem, no entanto. E quem as faz são especialistas que se debruçam há anos sobre a questão. A primeira delas, e com uma recorrência que a legitima, se refere ao grau absurdo de exigências em quase todos os campos com os quais irão se defrontar. Do profissional ao afetivo, passando por inúmeros outros. E como eles se espelham o tempo todo nos modelos apresentados nas redes sociais, onde grassa a mais irreal das perfeições, é claro que vão se sentir totalmente deslocados, não dispondo das ferramentas necessárias para o enfrentamento. Supõe-se o frustrante sentimento de inferioridade que nasce disso. É como se não existisse mais lugar para eles no mundo. Ato contínuo: a depressão e a morte do sentido para tudo que os cerca.
Outro dado relevante é a angústia (e em alguns casos o fastio) diante de um mundo de escolhas quase infinitas. Numa fase em que a insegurança não raramente se traveste com a roupagem da arrogância, é extremamente conflitivo saber o que descartar nesse mar de opções. Quando se fala que eles estão perdidos, essa palavra precisa ser interpretada literalmente. E, por fim, mas não menos importante, deve-se considerar essa glamourização disseminada na internet. Essa prática passou a ser incentivado de maneira criminosa. O que fazer, então, ao constatar que a educação familiar e escolar esmorece diante de tantas seduções oferecidas por aqueles que se tornam seus heróis ocasionais?
É uma situação dramática que exige todo o desvelo dos pais. O pedido de socorro nem sempre é percebido por quem está próximo. Para que ele não seja tardio, aprendamos a ler os sinais que se apresentam no dia a dia. Essa atenção afetiva pode salvar quem a si mesmo já não o pode fazer.