Tenho lembrado, como um enlevo poético nessa nossa vida cheia de afazeres, de duas amigas muito queridas com as quais partilhei a minha juventude. Margarida e Carmen, freiras que consagraram cada momento de sua existência para ajudar os outros. Todo encontro era um exercício de reflexão, a lembrança da exata medida do nosso egoísmo, preocupados apenas com a ordem comezinha das coisas. Era uma nobreza para a alma estar ao lado delas. Ouvir as histórias de dor e redenção, o tempo que dedicavam aos pobres das comunidades que recebiam seus cuidados. Sempre humildes, sem nenhum tipo de vaidade, certas de que estavam fazendo o que deveria ser a causa de todos. Já entrando na idade madura e com alguns problemas físicos, deixavam o conforto de suas casas para se entregar a este trabalho que lhes exigia muito. A palavra cansaço nunca esteve presente, nem em palavras e muito menos na expressão de seus rostos. Praticavam o Evangelho na mais estrita concepção do termo. Guerreiras de Deus, como se definiam. Por que estou usando todos os verbos no passado? Tudo o que fizeram ainda perpassa a realidade que hoje vivo. Sua presença forte e etérea me marcou indelevelmente. Permaneço em dívida, pois recebi o ensinamento de que a queixa faz parte do vocabulário dos preguiçosos, dos que aderem às causas somente com a linguagem. Elas, mulheres de ação e coragem, estavam dispostas a enfrentar tudo, inclusive as limitações que os anos foram deitando em seus corpos.
Opinião
Gilmar Marcílio: Irmã Margarida, Irmã Carmen
Era uma nobreza para a alma estar ao lado delas
Gilmar Marcílio
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