Quem planeja seus dias e se frustra quando as expectativas não são confirmadas, precisa rever com urgência essa estratégia de conduzir seus passos. Não dominamos quase nada. As circunstâncias obedecem mais à aleatoriedade do que a um traçado prévio que nos dê segurança. Tudo é areia, água que escorre entre as mãos. Gosto de alimentar essa ideia, pois ela me devolve o sentido de humildade que parece tão distante de nós. Talvez nunca venha a me tornar um homem religioso, que pratica rituais e aposta cegamente na eternidade. Mas, com o passar dos dias, tem aumentado o meu respeito por todos aqueles que direcionam seus atos pensando na existência de Deus. Pode ser que em algum momento eu diga não ao meu racionalismo e estenda os braços para o que a linguagem não alcança. Gostaria muito de ver essa transformação acontecendo o quanto antes. Tenho tentado adotar uma postura mais leve quando sou convocado a sair do meu comodismo e enfrentar situações que exigem uma força que me parecia inexistir dentro de mim.
Observar como os outros reagem é uma maneira de ampliar os limites das nossas escolhas. Tudo é resultado da educação que tivemos. Mas deve-se ir além de conceitos e preceitos que engessam as possibilidades. Acho admiráveis as pessoas que vão se deslocando além de si mesmas em busca de novas alternativas. E isso não só em referência a seus conflitos. Mesmo nas ocasiões onde a alegria e a felicidade são elementos presentes, podemos nos perder se não formos maleáveis e não tivermos a consciência de que também fazem parte do efêmero. Em outras palavras: não podemos nos apegar ao mundo das circunstâncias. Perdemos, ganhamos, caímos, nos levantamos, queremos bem, nutrimos sentimentos ruins. Todas essas polaridades fazem parte da trajetória humana. Fixar-se em apenas uma delas é reduzir o caleidoscópio de opções que diariamente está diante de nós. Há os que preferem apegar-se a um único modo de agir e reagir, dizendo que os outros lhe cobram coerência. Mais triste, parece-me, é permanecer preso a ponto de não conseguir mais sair dessa pequena cela em que os pseudovalores mofam e já não são mais valores, mas aparentes verdades reveladas num idioma que não somos capazes de decifrar.
Percebo que as pessoas que não se revoltam e buscam soluções práticas para os seus problemas acabam sofrendo bem menos. Sei que não é fácil quebrar esse espesso vidro que está entre o que somos e o que gostaríamos de ser. Mas é preciso fazer esse esforço, caso contrário nosso destino será o de vivermos atormentados quando as coisas fogem do controle. Quem sabe jamais venhamos descobrir se existe um plano cósmico para cada um de nós ou se tudo é fruto do acaso. Pouco importa. Sejamos hábeis, como artesãos eficientes, em alterar o desenho da peça que estamos criando.