As grandes revoluções comportamentais mudam radicalmente nossos hábitos. O público alvo costuma ser os jovens. Depois, aos poucos, pessoas com mais idade vão aderindo, mas sempre com certa desconfiança. Somos animais de costumes arraigados e rompê-los requer certa ousadia. A segurança está na repetição. Foi pensando nisso que fiz essa pergunta ao meu amigo Fábio Letti, geriatra que sabe ouvir com delicadeza os idosos que atende em seu consultório: qual é a queixa mais recorrente que ouve de seus pacientes? Sem hesitar um momento, respondeu: "A solidão, mas hoje com uma atenuante, a internet, que está ajudando consideravelmente a minimizar essa situação." Vejam só, esse instrumento tão vilipendiado, quando falamos na dificuldade de manter encontros reais, tornou-se um lenitivo para aqueles que já não dispõem mais de algumas vozes amadas para mitigar essa difícil etapa da vida. Como filhos nunca foram a garantia de uma velhice povoada, muitos se sentem injustamente esquecidos em suas casas ou nos asilos. Eufemisticamente chamados de casas de repouso, são, salvo alguns confortos gerados pela possibilidade de pagar altas mensalidades, ilhas distantes dos parentes. Se assim tiver que ser, que ao menos se possa encontrar algum substituto, mesmo que seja um simulacro, para a sensação de isolamento que se apodera de muitos. Pois parece que a tecnologia, neste caso, tornou-se um bálsamo.
Talvez ela funcione, considerando-se algumas diferenças, como um reduto onde se pode selecionar a companhia desejada. O botão liga/desliga nos disponibiliza o mundo e, ao mesmo tempo, num simples toque o faz desaparecer. Idosos costumam cristalizar algumas manias. O que é bom se intensifica, mas o que é ruim também, até com mais força ainda. O contato com esses mágicos aparelhos permite que eles se divirtam, se instruam e passem os dias preenchendo-os com outras vozes. Trocam o isolamento por uma certa aproximação e já não se sentem expulsos como antes. A queixa mais recorrente, nesses anos finais, é a de que se tornaram invisíveis, quando não incômodos. Ressalvas sejam feitas: há famílias que cuidam de seus idosos com zelo e desdobrado amor. Mas não costuma ser a regra, infelizmente. Pois então, que se inventem mais aparelhos ainda para que seja possível trapacear com uma realidade tantas vezes dura, depois de décadas cuidando de filhos e netos. Sejam iPads, tablets ou smartphones as novas companhias para os esquecidos, são brinquedos que distraem e nos dão a sensação de recortar o que há de melhor da realidade. Um sonho que nos acompanha desde a adolescência, quando nossa maior alegria era poder fechar a porta do quarto e criar um universo particular.
Então, que tenham todos uma conexão de qualidade para que continuem absorvendo as novidades que surgem. Afinal, essa costuma ser a maneira mais eficaz de injetar juventude nas almas e nos corpos cansados.