Precisamos nos convencer disso: homens e mulheres sempre serão diversos entre si. Louvemos todas as conquistas de igualdade, toda ruptura de preconceito e a forma mais livre e solta com que estamos nos relacionando afetivamente. Mas nem tudo é paritário. Darwin explica? Provavelmente. Creio, cada dia com mais ênfase, que alguns comportamentos humanos são tão atávicos que mudanças culturais não os eliminam. Eles têm a força da ancestralidade e, por mais que nos esforcemos em ser modernos, acompanhando a evolução dos costumes, algo dentro de nós grita por permanência. Não tento justificar cartilhas que provocam o distanciamento entre os sexos. Busco apenas ler o que a realidade me mostra. E a arte, seu espelho mais fiel, também. Talvez seja por isso que o filme "Como nossos pais", da diretora Laís Bodansky, tenha deixado em mim tão fortes impressões. Ao retratar o cotidiano de uma família de classe média urbana, colocou uma lupa sobre questões que não podem ser cobertas por movimentos feministas e muito menos pelo saudável desejo de ruptura que ouvimos no discurso dos mais jovens. São tentativas admiráveis de aniquilar um passado carregado de interditos, enganos que nada mais fazem do que estilhaçar os contatos amorosos.
A cena que me fez reconhecer o óbvio camuflado: Um casal, Caco e Rosa, vivem em constante desentendimento. De horários, de ideias, de gostos, de respeito. Mas continuam juntos, pois os filhos, os pais, os vizinhos, etc... Num determinado momento ela brada que está tudo ruim, que não aguenta mais e quer se separar. Ele, espantadíssimo, a encara sem entender nada e diz: "Mas do que é que você está reclamando? Ontem mesmo nós fizemos um sexo selvagem, como dois adolescentes apaixonados!" Pronto, isso é mais do que suficiente, no imaginário masculino, para considerar que um casamento está dando certo. Quase tudo é medido pelo que se passou na cama. É claro que muitos casais em crise não preservam nem esse último resquício de cumplicidade: o desejo erótico. Mas quando ele ainda está lá, queixar-se do quê, exclamam em coro os machos satisfeitos. Um bom orgasmo equivale a qualquer conversa que tente resolver conflitos. Se isso não é diferença de gênero, expliquem-me o que é, por favor. Estou para encontrar uma mulher que aceite isso como a solução de problemas conjugais. Talvez haja um pouco de exagero nesse escrutínio permanente de tudo o que acontece no âmbito conjugal, como elas costumam propor. Mas o outro extremo também não parece ser a solução ideal. A libido não aplaina os conflitos, zerando-os. Apenas os encobre. Provisoriamente.
Solução? Nenhuma. Apenas observar e observar-se com mais atenção quando estamos partilhando a vida com alguém, procurando não impor ao outro o que pode ser somente uma questão de biologia ou de cultura, quem poderá dizer.