É improvável, senão impossível, você ouvir estas palavras da boca de um arrogante: "Eu não sei". Todos, sem exceção, vivem cheios de certezas absolutas. Não questionam nada, porque se sentem ungidos pela verdade. E o que dizer desses ditadores que detêm poder político, que governam um país? Em diversos momentos, eu e você também podemos sofrer desse desvio de conduta, esquecendo-nos de usar mais vezes o ponto de interrogação no final de uma frase, um pensamento, uma ordem proferida. Quando passamos a ser escutados por muitos, tendemos a acentuar essa inclinação demasiadamente humana. Reflito sobre isso enquanto leio o excelente livro Café com Sócrates. O filósofo americano Christopher Phillips, autor da obra, propõe que sigamos o exemplo do mestre grego, para quem importava mais a capacidade de continuar perguntando do que de encontrar respostas para as nossas dúvidas. O método que ele chamou de maiêutica (parto ou dar à luz) tinha como base o reconhecimento de nossa ignorância. Diante dessa constatação, só restava indagar. Nada de colocar-se num pedestal, esmagando a humildade que nos faz reconhecer o mar de desconhecimento no qual estamos imersos. Podemos até ser doutores em determinado assunto. Porém, isso só provará que ignoramos tudo o mais, menos o alvo do nosso interesse.
Opinião
Gilmar Marcílio: eu não sei
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Gilmar Marcílio
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