É improvável, senão impossível, você ouvir estas palavras da boca de um arrogante: "Eu não sei". Todos, sem exceção, vivem cheios de certezas absolutas. Não questionam nada, porque se sentem ungidos pela verdade. E o que dizer desses ditadores que detêm poder político, que governam um país? Em diversos momentos, eu e você também podemos sofrer desse desvio de conduta, esquecendo-nos de usar mais vezes o ponto de interrogação no final de uma frase, um pensamento, uma ordem proferida. Quando passamos a ser escutados por muitos, tendemos a acentuar essa inclinação demasiadamente humana. Reflito sobre isso enquanto leio o excelente livro Café com Sócrates. O filósofo americano Christopher Phillips, autor da obra, propõe que sigamos o exemplo do mestre grego, para quem importava mais a capacidade de continuar perguntando do que de encontrar respostas para as nossas dúvidas. O método que ele chamou de maiêutica (parto ou dar à luz) tinha como base o reconhecimento de nossa ignorância. Diante dessa constatação, só restava indagar. Nada de colocar-se num pedestal, esmagando a humildade que nos faz reconhecer o mar de desconhecimento no qual estamos imersos. Podemos até ser doutores em determinado assunto. Porém, isso só provará que ignoramos tudo o mais, menos o alvo do nosso interesse.
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Pessoas que cristalizam um único olhar sobre a realidade tendem a se tornar francamente preconceituosas. Ou o seu pensamento coincide com o meu, ou você está contra mim. Não é isso que vemos acontecer toda hora nas redes sociais? A padronização do raciocínio (quase sempre rasteiro) faz com que qualquer um profira sentenças definitivas. Pretendo chegar à velhice mudando diversas vezes as minhas ideias. Conviver só demonstra que o que percebemos são apenas pontos de vista. Ou seja: ao mirar numa só direção, deixamos de notar o que está ao redor. A alegria do aprendizado é a constatação do quanto temos a assimilar.
Gosto dos que tateiam, hesitam até. Mais do que insegurança, eles transmitem a sensação de que estão perscrutando em seu interior algo que valha a pena afirmar. Tudo o mais não passa de opinião. E muitos que estão no pódio neste momento arvoram-se o direito de convencer os outros, arrastando-os à vala do senso comum. Atente, por exemplo, para um discurso de Donald Trump. Ele adora posar de salvador, daquele que tem como missão tirar os demais das trevas. É o que fazem todos os que se imaginam cercados de inimigos. Professam um heroísmo fajuto, que poderá destruir todos nós.
"Pode ser, mas não tenho certeza". Diga isso mais vezes. E não esqueça: os tolos jamais se espantam. Experimente; erre. Seja prudente nas conclusões.