Todo mundo deve conhecer alguém assim: gente que apresenta o grande amor de sua vida. Esse, o único. Mas em série. Namoram dois, três meses e já estão se preparando para morar juntos. Nem perca seu tempo tentando mostrar que tudo isso é um tanto precipitado, e quem sabe devam esperar um pouco mais. Esqueça. A decisão parece ter sido tomada logo depois do primeiro olhar. Os dias vão passando e você reencontra fulano de tal. E aí? Como vai o casal feliz? Uma nuvem escura parece envolver cada letra do nome do antes eterno companheiro. Ele já não é mais; aliás, nunca deveria ter sido. Ainda sem se recuperar do susto, é informado que, agora sim, os deuses conspiraram para que suas almas gêmeas finalmente se encontrassem. E a história vai se repetindo, sem a possibilidade de haver um razoável intervalo, que seja, entre uma relação e outra. Não sei, mas esses seres excessivamente famintos me parecem estar fadados a ficar vagando infinitamente, querendo algo que não existe. E a pressa com que emendam um namoro no outro não lhes permite respirar, avaliando o que deu errado, para evitar repetir daqui para a frente. São o que os americanos chamam de serial lover. Uma metralhadora sentimental. Dão um tiro atrás do outro, sem descanso. Talvez se divirtam mais do que aqueles que optam por investir num único ser. Vai saber.
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Recentemente, indaguei um amigo adepto dessa modalidade amorosa.Ele literalmente não passa mais do que uma semana solteiro. Pelo menos nos últimos dez anos. Durante as quarenta e oito horas que se seguem à ruptura sofre como um condenado, não quer falar com ninguém, nada o consola. Depois disso, segue à risca o ditado: rei morto, rei posto. Vai à caça nas redes sociais. O que um psicólogo diria disso? Imaturidade emocional? Medo de ficar sozinho? Algum trauma vivido lá na infância e nunca bem resolvido? Deixemos um ponto de interrogação para que se possa refletir. Ninguém se torna íntimo de outro senão depois de partilhar um sem número de experiências boas e ruins. Somos criaturas que reagem de maneira muito peculiar quando colocados à prova. Esse troca-troca impede de ver o que há de sombrio em nós e procuramos esconder. A paixão não nos torna somente cegos, parece dar férias também à inteligência.
Melhor ir com calma, portanto. Depois do fim, o mais conveniente parece ser acomodar-se na convalescência. Colocar as barbas de molho antes do próximo investimento. Caso contrário, ficaremos presos a essa renovada busca. Que não deixa de ser outra espécie de solidão.