Poucas coisas me deixam mais triste do que ver o que deveria ser um jardim estar coberto por um gramado artificial. Seja numa escola, num condomínio, num canteiro em via pública, não consigo nem começar a explicar o desconforto que sinto, uma repulsa natural ao que pretende parecer natural, e que jamais será.
A grama artificial moderna sem dúvida tem uma aparência bastante realista. Já vi modelos com variações de tons de verde e até alguns fiozinhos marrons no meio para simular as raízes naturais da planta. O mercado oferece gramados desde os mais macios até os mais resistentes que são utilizados em campos de futebol e quadras de esportes, ou mesmo em passagens de pedestres.
Por que se opta por grama artificial em vez de um gramado natural? Muitos alegam durabilidade — a grama artificial é feita, geralmente, de fibras sintéticas como polietileno, polipropileno ou nylon fixadas em uma base de borracha ou látex extremamente resistente que podem durar entre 10 e 12 anos sem perder sua aparência. Além disso, requer baixo esforço de manutenção e pouquíssimos cuidados. Infelizmente, vivemos a era em que o esforço do cuidado e a tolerância às pequenas imperfeições e mudanças, para muita gente, simplesmente não compensa lidar com a realidade e abrem mão de todos os benefícios que a coisa real traz.
Convenhamos que cortar a grama, adubar, repor o pedacinho onde há falhas, ter que às vezes replantar tudo depois do inverno dá um trabalho danado. Mas e a recompensa? Aquele vigor do gramado depois de uma chuvarada? O cheiro da grama recém-cortada? A textura das folhinhas sob os pés nus numa tarde ensolarada? A explosão de cores e tons nas gotinhas de orvalho que se formam de manhã? Tudo isso não tem como reproduzir artificialmente: o artificial só se aproxima do natural olhando de longe, sem toque, sem perfume, sem o olhar atento e presente.
E não é só a grama artificial que está tomando conta dos espaços, mas sim uma mentalidade tolerante ao ato de adotar o sintético no lugar do natural, de aceitar que o aparente seja o suficiente para substituir o real. Se ampliarmos essa visão um tanto sombria para outros aspectos das nossas vidas — alimentos que não são alimentos mas uma versão ultraprocessada deles, rostos que não são rostos mas máscaras criadas com filtros de rede social, felicidade que não é felicidade mas uma emulação de um estado apenas eufórico — entendemos que nunca foi tão importante nos apegarmos ao real, mesmo que nos custe muito trabalho, cuidado, esforço, dedicação e aceitação das imperfeições perfeitas da natureza, inclusive da natureza humana.
Este texto, obviamente, não é só sobre grama. Muito rapidamente, artistas reais estão perdendo espaço para máquinas que criam versões sintéticas de um design, de uma música, de um texto. Quem tem experiência e um olhar treinado consegue em segundos sentir o mesmo desconforto que se eu sinto ao me deparar com um gramado sintético. Mas muitos estão aceitando a invasão do artificial, porque o real, o natural e o humano exigem “muita manutenção”.