Detesto pais e mães “influencers”. Sabe aquele tipo que adora expor os filhos na internet — e muitas vezes em situações vexatórias — para produzir “conteúdo” e gerar “engajamento”? Pois é, não passam de adultos totalmente inaptos à tarefa mais importante de todas que é educar e prover uma criança com amor, saúde, segurança e propiciar as condições ideais para o desenvolvimento cognitivo, ético e emocional dos pequenos.
Nesta semana, num vídeo desses pais influencers, um pai levou sua filhinha de cerca de 6 anos ao mercado. A menina sorridente, provavelmente empolgada com a vinda do Coelhinho, saltitava em torno do pai, que parou debaixo dos ovos de Páscoa expostos num corredor de supermercado. Com a falácia de que “Vai doer mais em mim do que me você”, ele começa a comparar o preço de um ovo de Páscoa ao preço de uma picanha (só por isso, já se tem uma ideia da falta de noção do rapaz), e aí larga isto: “Tenho uma coisa para falar pra você: Coelhinho da Páscoa não existe”. E continua explicando que, como está tudo muito caro neste ano, a menina vai ficar sem presentes porque não é o Coelhinho quem dá os ovos, mas os pais.
Como é de se esperar, a pobre garotinha cai em prantos e abraça a mãe — que passou a xingar o marido enquanto ele continuava filmando. A cena é deprimente: dois adultos incapazes de proteger a inocência de uma criança a troco de quê exatamente? No vídeo, o pai diz algo como “Não dá mais, rapaziada”. Pelo jeito, a “rapaziada”, ou seja, a audiência que lhe dá migalhas de atenção, tem mais importância do que a felicidade e o bem-estar de sua filhinha, a quem expôs inutilmente só para provar um ponto em rede social.
A propósito, a Páscoa jamais deveria ser reduzida a uma questão de quanto mais caros estão os chocolates. Até entendo a revolta da população com uma inflação que está corroendo o poder de compra e impactando na qualidade de vida das famílias. Mas é assim que se protesta? Desfazendo o pouco de fantasia que ainda resta na infância?
No fundo, tenho muita pena dessas crianças que viram coadjuvantes no filminho da vida dos pais influencers. Com certeza, nenhum pai tem a intenção de causar mal ao próprio filho com um simples vídeo, mas é questão de bom senso saber que um caso assim ultrapassa todos os limites. Se eu fosse essa família, comprava um chocolatinho mais barato só para a data não passar em branco. Quem sabe poderiam assistir ao episódio 3 da 1ª temporada da série The Chosen e entender como Jesus — que é a razão de existir a Páscoa — tratava as criancinhas: com respeito, com escuta, com dignidade, com esperança.
Matar o Coelhinho para lacrar na internet é um símbolo da falta de valores da nossa sociedade. É matar a esperança, é matar a alegria e o milagre da vida. É ir contra tudo o que a Páscoa deveria representar.