Por muitos e muitos anos, dei aulas de português e de redação em escolas públicas e particulares. Os meses de novembro, dezembro e janeiro para os adolescentes costumavam ser – e continuam sendo – aquele caos de pressão, estresse, ansiedade, expectativa, calor e provas, muitas provas. Horas e horas, dias e dias resolvendo questões e escrevendo textos para comprovar que sabiam mais que outro candidato todo o conteúdo acumulado em três anos de Ensino Médio, até mesmo em áreas pouco a ver com o curso pretendido.
Testemunhei jovens que, mais tarde, se tornaram profissionais muito bem-sucedidos na área de Tecnologia de Informação padecendo para decorar alguma coisa sobre briófitas. Também havia aquela futura médica radiologista, atenciosa e extremamente competente, com calos nos dedos de tanto escrever redações com propostas para “salvar o planeta” (como se uma adolescente de 17 anos fosse responsável por apontar a adultos os melhores caminhos para o futuro da Terra). Enfim, sempre achei todo o sistema do vestibular e do ENEM um pouco injusto, um tanto enviesado, muito aquém do que seria uma seleção adequada para o ingresso numa instituição de ensino superior. Acrescento ainda que esse sistema hoje se ampliou e se eternizou em outros tipos de prova de seleção que visam avalizar certo mérito parcial, como acontece com testes para ingresso em escolas de institutos federais e concursos públicos.
Quem se propõe ou precisa passar por algo assim geralmente investe um ano inteiro se preparando, estudando, frequentando cursinhos, pagando aulas particulares com tutores e professores. E aí vai conferir a lista de aprovados e seu nome não está lá.
Acredito que para muitos jovens, não passar no vestibular talvez seja a primeira grande decepção de suas vidas, a primeira grande sensação de fracasso, um pé mais perto de encarar o abismo escuro e profundo de não se achar bom o suficiente. Como lidar com isso com apenas 17 ou 18 anos de idade? Não tem como. Um sistema opressor de avaliação desses consegue quebrar o espírito de qualquer um num primeiro momento, justo aquele de constar que seu nome não está na lista.
O único conselho que tenho agora neste mês de fevereiro a quem não passou no vestibular – ou a quem recentemente teve algum tipo de revés numa seleção qualquer ou entrevista de emprego – é o seguinte: você não vai precisar recomeçar do zero. Imagine que toda a preparação que teve até hoje é como uma escada de vários degraus. Por exemplo, para conquistar a vaga sonhada e almejada, você precisaria chegar ao degrau 25. Mas, neste ano, conseguiu subir até o degrau 21. Não ter chegado ao degrau 25 não quer dizer que você tenha que descer a escada e voltar lá no chão para começar no primeiro degrau novamente. Tudo o que você estudou ainda está ali dentro: a subida, a dedicação e o esforço de um ano inteiro não foram perdidos. Eles te levaram até um lugar bem alto da escada, orgulhe-se disso, porque agora só falta mais um pouquinho.