Existem vários tipos de veranistas em férias na praia: quem gosta de lugares com vida noturna agitada e muito movimento, e quem gosta de praias mais tranquilas onde realmente se pode ouvir o som do mar dia e noite. Eu, como deve ser óbvio para quem me acompanha neste espaço, pertenço ao segundo grupo.
Quero sossego, quero ouvir apenas as ondas quebrando ali na areia branquinha e um ou outro bem-te-vi rivalizando com os quero-queros entre as dunas e as árvores aqui na frente de casa. Quero ter tempo para ficar conversando amenidades com meu vizinho aposentado enquanto ele esculpe uma hélice de aeromodelo num pedacinho de madeira e testa a aerodinâmica do objeto com a brisa que sopra do mar.
Janeiro aqui em Arroio do Sal nem parece o mesmo lugar da virada do ano, agora que os jovens se foram e praticamente só sobraram os idosos, professores de férias, profissionais em home office, algumas famílias com crianças pequenas. Em tempos de La Niña, o verão aqui é um combo de mar incrivelmente quente e limpo para os padrões do Rio Grande do Sul, tempo bom e muita paz de segunda a sexta.
Como li no post de uma amiga muito querida, “Paz é o novo luxo”. Na verdade, eu diria que paz é o luxo supremo que só conquistamos depois que lidamos com o autoconhecimento e com a disciplina de trabalhar, se capitalizar e criar as condições para vivermos nossas próprias verdades e vontades.
A questão é que mesmo um conceito universal como a paz, por incrível que pareça, varia muito de pessoa para pessoa. Por exemplo, para mim hoje é fundamental viver numa cidade pequena, veranear numa praia sossegada, onde há quietude e contato próximo com a natureza. Gosto muito do conceito de “slow cities”, ou seja, de cidades onde a vida anda mais devagar.
É um contraste ao ritmo alucinado das grandes metrópoles onde todos têm pressa, e ironicamente tudo parece mais demorado: ir ao mercado fazer as compras do dia-a-dia, levar os filhos para a escola, achar um lugar para estacionar, assinar um documento no tabelionato. Tudo tem fila, tudo é aglomerado, e onde há aglomeração geralmente há mais chance de topar com gente problemática e mal-humorada por uma simples questão de probabilidade estatística.
Numa cidade pequena, ao menos sabemos quem são os mal-humorados e mal-amados e os evitamos. Já, para outros, a vida longe de um grande centro urbano poderia tirar a paz justamente pelo mesmo motivo: todos se conhecem, e isso pode ser perturbador.
É claro que nem sempre se podem escolher ambientes e circunstâncias, por isso é necessário encontrar alguma forma de criar sua paz independentemente de onde se vive, até porque é para isso que existe a tal paz interior. Ela é uma conquista de dentro para fora. Exige entender, afinal, quem somos, do que precisamos, ao que almejamos na vida, como nos sentimos seguros ou em perigo.
Todo esse autoconhecimento é que vai abrir o caminho para o luxo supremo que é se sentir em paz consigo mesmo e com o mundo do jeito que ele é.