Vítima constante da depredação e insegurança no centro de Caxias do Sul, o Monumento ao Duque de Caxias deve ter uma novidade para evitar novos problemas no futuro. O projeto final para recuperação foi apresentado na última sexta-feira (27) à secretária da Cultura, Cristina Calcagnotto, e prevê a instalação de uma proteção extra, feita com vidro, para frear a ação de ladrões e vândalos.
A Associação dos Amigos do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea - Grupo Conde de Caxias (Soaconca) é a responsável pela reforma, e o projeto é do arquiteto Everton do Prado. Um convênio entre a entidade e a prefeitura foi assinado em julho, prevendo esta recuperação, necessária após uma série de atos de vandalismo que descaracterizaram o monumento. A ocorrência mais marcante foi o furto do busto que existia no local, levado por três homens em agosto de 2021 e nunca mais foi encontrado.
A reabilitação do espaço prevê a recolocação de todos os materiais metálicos que existiam originalmente, como letreiros, placas e o busto, além de limpeza e repintura. Mas a principal novidade, para garantir a segurança do que vai ser recuperado, é a instalação de uma cápsula de vidro, que terá a função de impedir novas depredações e furtos. O presidente da Soaconca, Luis Felipe Novello, revela que houve muita pesquisa para determinar o formato de proteção a ser usado, e a alternativa escolhida se mostrou a melhor opção:
— Não vou dizer que é o único monumento do gênero no país, pois não conheço todos. Mas com certeza vai ser um dos únicos que vai ter essa tecnologia. A gente podia botar uma grade, mas isso causaria uma situação claustrofóbica e esconderia o monumento. Buscamos uma solução mais moderna e criativa, que inclusive vai valorizar o monumento, pois também trabalharemos com iluminação e tecnologia.
A proposta prevê o uso de um vidro blindado duplo, de 10mm de espessura, que vai formar uma cápsula ao redor do monumento. Segundo Novello, esta alternativa já é usada em locais como Chicago, Nova York e Paris, e é o que de mais moderno existe no mundo para contemplação, garantindo plena visualização, ao mesmo tempo que permite a segurança do material exposto. Além disso, um QR code permitirá que o espaço seja mais interativo, pois disponibilizará aos visitantes vídeos e fotos que contarão a história do marco.
A questão da segurança continua em discussão. A Soaconca entende que a proposta garante que o busto e as outras estruturas sejam devidamente preservadas, mas ressalta que o aumento da vigilância no local é uma necessidade urgente. Novello defende, inclusive, que a recuperação sirva como uma resposta à degradação da área.
— As pessoas não podem mais aceitar algumas coisas como normais. A gente não pode parar de se inconformar com coisas como o roubo do busto, que foi uma agressão contra a sociedade civil. Esse fato trouxe a mensagem de que é possível roubar e mexer em qualquer coisa na cidade. Não podemos aceitar isso, e essa recuperação vai servir de exemplo — argumenta.
Quando o convênio para recuperação foi assinado, a ideia era fazer a entrega no dia 19 de novembro, a data da inauguração do monumento em 1959. No entanto, com as alterações no projeto, isso não vai ser possível, e a ideia da Soaconca é agilizar o processo para que ela ocorra, no máximo, no primeiro trimestre de 2024. Embora os recursos para os trabalhos já estejam garantidos, a ideia da entidade é lançar uma campanha para arrecadação de fundos, a fim de que a comunidade se sinta parte do processo de recuperação.
A secretária Municipal da Cultura vai apresentar o projeto ao prefeito nesta quarta-feira (1°), durante a reunião do secretariado. Como não envolve uma alteração na parte histórica do monumento, ela entende que não precisa haver autorização do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural (Compahc), bastando autorização do Gabinete e da Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural (DIPPAHC). A ideia da cápsula de vidro agradou:
— É uma tendência mundial e houve um estudo sobre como foi feito em outros lugares. Eu vi com bons olhos o projeto, e agora vamos aguardar as devidas autorizações.
Inaugurado em 1959, o monumento traz a inscrição "Ao duque, o Exército e a cidade". A estrutura, que lembra uma espada, é feita em concreto, mas tem os adornos metálicos como pontos marcantes, especialmente o busto a Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro e inspirador do nome da cidade.
O busto, aliás, já está em Caxias do Sul. Fundido no Rio de Janeiro, ele passou pela análise do Arquivo Histórico do Exército Brasileiro, que mediu e fotografou, dando a ele o certificado de que representa fielmente o Duque de Caxias. A peça está guardada dentro do 3º GAAAe.