É fim de domingo e me pego fazendo perguntas sem sentido, mas que rendem uma crônica. Afinal, para onde vão as palavras que nunca foram ditas? Aquelas que guardamos para dizer no momento especial que nunca aconteceu. Para onde vão as cartas escritas e perdidas nos anos, sem jamais serem lidas pelo destinatário? Para onde vão os sorrisos que negamos ou nos foram negados, aqueles sorrisos de amor, de paz, de tesão? Para onde foram as conversas que ficaram em suspenso porque nunca conseguimos encontrar um momento adequado para sentar e trocar uma ideia? Aquelas conversas tão importantes para se perguntar o que houve, porque você foi embora e dizer o porquê de ter partido. Para onde vai o desejo preso entre os braços impedidos de abraçar uma vez mais? Para onde vai a vontade de estar perto, de chegar mais perto, de dizer quero estar perto, mas que o outro se mantém distante? Para onde vão os amores contidos por medo de rejeição? Para onde vão as meias das gavetas que desaparecem logo que foram compradas? As borrachinhas de cabelo, os clipes de papel, as canetas, os guarda-chuvas perdidos, os livros esquecidos? Para onde vão as lágrimas engolidas a seco em meio a uma conversa difícil e tão necessária? Para onde foi o adeus negado, o olhar desviado? Onde vivem os que partiram, os que decidiram ir, os que desapareceram?
Crônica
Opinião
Onde estamos?
Para onde foram as conversas que ficaram em suspenso porque nunca conseguimos encontrar um momento adequado para sentar e trocar uma ideia?
Adriana Antunes
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