Estamos sentados no pico mais alto do ano. Daqui vemos o começo, as esquinas ainda vazias, as caras descansadas, as vontades descobertas. Sabemos que não vai durar muito. Fevereiro chega como despedida. Daqui vemos a descida rápida para o fim. Loucura pensar assim, mas já já é fim de ano outra vez. Atravessamos a vida, carregamos nas costas as contas, as mágoas, as histórias não resolvidas, os livros não lidos. Carregamos a dor da quase perda, os amores incompletos, as amizades desfeitas, as raivas contidas. Estamos no cume do ano, janeiro. Aqui o ar é ainda azul, respirável, embora breve. Sentamos nos ombros de nós mesmos para olhar para o futuro. Não tem como prever como as coisas acontecerão amanhã ou no mês que vem. Não temos controle de nada. Adoecer é descobrir isso no corpo. Jamais bastou o desejo de melhora. Há coisas que acontecem sem que possamos intervir. O tempo tem uma linguagem própria. E mais ou menos dias aprenderemos a apenas deixar ser. Somos passageiros, sempre.
Poema inacabado
Opinião
Fevereiro chega como despedida
O tempo não é simétrico e nossa ilusão de viver depois o que deveríamos estar fazendo agora é brincar de fazer sereias em papel e lançá-las à água esperando que sobrevivam
Adriana Antunes
Enviar email