Por que você quer ser mãe? Invariavelmente, em algum momento, faço essa pergunta quando ouço uma mulher me contar que está pensando em engravidar. Essa é uma pergunta complexa e difícil de ser respondida. Nada que venha como resposta pronta é, de fato, real. Colocar-se diante dela requer coragem e autoanálise.
Ser mãe foi (e de certa forma ainda é) uma obrigação para as mulheres. O discurso de que uma mulher só se realiza quando passa pela maternidade ainda ecoa dentro das rodas de conversas entre nós e invadem o consultório. Vivemos tempos (e já faz bastante tempo) em que o valor da mulher está associada a sua capacidade de procriação e a função social de maternar. A maternidade como temos hoje é resultado de uma construção social e cultural que decide não só como criar os filhos, mas de quem é essa função. Escuto mulheres que se tornaram mães falarem de seus cansaços imensos, das jornadas triplas de trabalho, da exigência com a beleza, juventude, corpo, que não podem ficar irritadas, que precisam cuidar da casa, da roupa, do marido, do filho, fazer mercado, e, volta e meia, lidar com as traições. No modelo que temos hoje de maternidade, é pesado ser mãe.
Pensemos juntas. Talvez você ainda não saiba porque quer ser mãe, mas podemos arriscar respostas sobre porque você não deveria ser mãe. Não se deve ser mãe porque as amigas estão engravidando e você ficará para trás. Não se deve ser mãe porque o companheiro disse que se você não quiser engravidar é melhor terminar a relação. Não se deve ser mãe porque precisará de alguém para cuidar de si na velhice. Não se deve ser mãe para compensar tudo aquilo que não teve dos próprios pais. Não se deve ser mãe porque esse é o curso natural de toda mulher. Não se deve ser mãe porque é o que a família espera de você. Não se deve ser mãe para salvar o casamento.
Nossa sociedade espera que a mulher seja mãe em algum momento da vida e que seja dócil, infatigável, de preferência muda, que cuide da casa, do marido e dos filhos. Nós aprendemos desde criança a cuidar. Isso é tão forte que o presente mais dado às meninas são bonecas. Espera-se, inclusive, que a mulher agora mãe possa abrir mão do seu trabalho, pelo menos por um tempo, em função do cuidado com o filho. Há uma ideia de que trabalho e amor se opõem e isso é uma construção ideológica e histórica.
Dentro da nossa cultura, as mulheres são hetero-centradas enquanto os homens são autocentrados. Isso significa que enquanto eles preocupam-se consigo e seus desejos e necessidades, as mulheres são ensinadas a cuidar e a se responsabilizar por todo o resto.
É claro que isso vem mudando, a passos de formiga. Mas hoje a mulher pode dizer não, caso não queira ter filhos ou ainda não saiba o que pensar sobre isso. Nem todas mulheres nasceram para ser mãe. Não, não é da natureza da mulher ser a eterna cuidadora.